SIMON SCHWARTZMAN, HELENA MARIA BOUSQUET BOMENY, VANDA MARIA RIBEIRO COSTA
1ª edição: Editora da Universidade de São Paulo e Editora Paz e Terra, 1984 - 2ª edição, Fundação Getúio Vargas e Editora Paz e Terra, 2000.Almoço em homenagem a Jacques Maritain, Rio
de Janeiro, 10 de agosto de 1936. Da esquerda em pé, Augusto Frederico Schmidt
(1), Miguel Osório de Almeida (2), José Lins do Rego (6) e Otávio Tarquínio
de Souza (7). Sentados, Afonso Pena Júnior (2), Jacques Maritain (4), Gustavo
Capanema (5) e Alceu Amoroso Lima (9) FGV - CPDOC Arquivo Gustavo Capanema |
O que chamamos de época de transição é exatamente esta época profundamente trágica, em que se torna agudo o conflito entre as formas tradicionais do nosso espirito, aquelas em que fomos educados e de cujo ângulo tomamos a nossa perspectiva sobre o mundo e as formas inéditas sob as quais os acontecimentos apresentam a sua configuração desconcertante.(39)O grande perigo para Francisco Campos consiste na preservação do equívoco sério que é o de se educar para a democracia, quando esta está sofrendo uma revisão substancial em seus termos. Sua preocupação é com a integração politica, tendo em vista o crescimento das massas e a necessidade de arregimentá-las segundo um ideário comum.
O que o Estado totalitário realiza é mediante o emprego da violência, que não obedece, como nos Estados democráticos, a métodos jurídicos nem à atenuação feminina da chicana forense - a eliminação das formas exteriores ou ostensivas da tensão política. (...) No Estado totalitário, se desaparecem as formas atuais do conflito politico, as formas potenciais aumentam, contudo, de intensidade. Dai a necessidade de trazer as massas em estado de permanente excitação.(42)O processo de integração politica será efetivo quando se obtiver um deslocamento da área do conflito para fora do contexto social interno, ou seja, por um processo de internacionalização do conflito. Internamente, o problema crucial a ser equacionado é o de manter as massas em permanente estado de irreflexão, o que vale dizer, de êxtase, de excitação e de inconsciência.
Desfile da Juventude por ocasião da visita de Capanema a Curitiba, 14 de outubro de 1943 |
O espírito dessas crianças brasileiras, formado em língua, nos costumes, nas tradições dos pais, só poderia tender para a pátria de origem, constituindo um empecilho à coesão nacional. Mesmo na raça latina e assimilável como é a italiana, nota-se uma grande tendência para conservar a língua e os costumes, quando formando regulares aglomerações; nas colônias alemãs, então, a propensão conservadora é ainda muito maior, agravada pela diferença de língua e dos costumes. Em certas regioes do país a necessidade da Escola Nacional é bastante grande; abri-la é conquistar milhares de cidadãos para a pátria.(68)Mencionada e incluída na pauta de discussões desde o início do século, a questão da nacionalização do ensino encontraria no Estado Novo o momento decisivo de sua resolução. Não é absolutamente gratuito esse fato; não é por acaso que só sob o regime autoritário estadonovista tenha sido possível chegar a uma política agressiva de cunho gravemente repressor. De um lado, havia a disposição do governo de enfrentar resistências à imposição de procedimentos coercitivos; de outro, uma conjuntura onde toda a ideologia dominante estava fundamentada na afirmação da nacionalidade, de construção e consolidação do Estado Nacional. Não havia, em projetos nacionalistas como o do Estado Novo, espaço para a convivência com grupos culturais estrangeiros fortes e estruturados nas regiões de colonização.
esta consciência de grupo nacional, este devotamento ao grupo-nação se acompanhe de uma "mística nacional." Quero dizer: de um sentimento de orgulho nacional, de grandeza nacional, de superioridade nacional. Este ideal de grandeza ou de superioridade nacional é o que há de ser a fonte alimentadora do "espírito brasileiro" anêmico, débil, inoperante.(70)Foi a herança da colonização, acreditava Oliveira Viana, que deixou nos brasileiros um complexo de inferioridade historicamente enraizado, atuando como empecilho à formação de uma "mística de superioridade" - condição considerada indispensável à criação e construção da nacionalidade. A existência de tal contraste dentro do Brasil, pela presença de núcleos estrangeiros portadores do que mais nos faltava, advertia sobre o grau de "anemia", de "debilidade", enfim, sobre o estágio em que se encontrava a nossa "doença" que clamava por uma solução.