Reino Unido de Brasil e Portugal - 1808 - 1821
Institucionalização Produção Científica
Vinte e cinco dias após desembarcar na Bahia, D. João VI cria o Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia, no Hospital Militar. A iniciativa coube a José Correia Picanço, pernambucano formado em Montpeilier, Lisboa e Paris, catedrático de Coimbra e cirurgião-mor do Reino e da Casa Real. Primeiros oito anos de funcionamento rudimentar, com dois professores, quatro anos de duração. A partir de 1816, passa a funcionar efetivamente.
Criação da Escola Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro, instalada no Hospital Militar em moldes análogos à da Bahia.
Junto com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, o príncipe D. João VI transfere para o Rio de Janeiro a Companhia dos Guardas-marinha, com seu diretor e boa parte dos lentes e professores da Academia Real da Marinha.
Criado por D. João VI, na Fazenda da Lagoa de Rodrigo de Freitas, o Real Horto, mais tarde Jardim Botânico do Rio de Janeiro, destinado a princípio, como Jardim de aclimação, à introdução no Brasil da cultura de especiarias das índias Orientais.
É fundada no Rio de Janeiro, por D. João VI. a Impressão Régia.
1809 Criado no Rio de Janeiro um observatório astronômico e meteorológico para uso da Companhia dos Guardas-marinha. 1809 Traduzidos para o português e dois anos depois adotados para o Curso de Matemática da Academia Real Militar os Elementos de Geometria e o Tratado de Trigonometria, de Legendre, e os Elementos d'Álgebra, de Leonardo Euler. A partir de 1815, a tradução de livros estrangeiros se torna cada vez menos freqüente.
1810 Criada no Rio de Janeiro a Academia Real Militar, com o primeiro "curso completo de Sciencias Mathematicas, de Sciencias de Observação, quaes a Physica, Chymica, Mineralogia, Metallurgia e Historia Natural, que comprehenderá o Reino Vegetal e Animal e das Sciencias Militares em toda a sua extensão, tanto de Táctica como de Fortificação e Artilharia" (Carta de Lei de 04-12-1810). Criada por D. João VI, foi transformada em 1858 em Escola Central, de tendência civil e em 1874 em Escola Politécnica. Inicialmente seu curso tinha duração prevista para sete anos. 1810 Publicadas, pela Impressão Régia no Rio de Janeiro, Ephemerides Náuticas ou Diário Astronômico para o Anno de 1811, Calculado para o Meridiano do Rio de Janeiro, por Joaquim Moreira Dias, primeira publicação do gênero no país. Publicação anual, com antecedência, até 1820.
Criado na Academia Real Militar, do Rio de Janeiro, um Curso de Matemática de quatro anos, composto de quatro cadeiras e aulas diárias de hora e meia. Seus compêndios se baseavam nas obras de Euler, Bezout, Monge, Legendre, Lacroix, Laplace, Francoeur, Prony, Delambre, Lacainé, Delandre, Hauy e Brisson.
Criada na Academia Real Militar a cadeira de Química para ser dada no quinto ano. Seu lente daria "todos os métodos docimásticos para o conhecimento das minas, servindo-se das obras de Lavoisier, Vauquelin, Jouveroi, de la Grange, Chaptal".
Fundada no Rio de Janeiro a primeira Biblioteca Pública do país.
Organizado o Real Gabinete de Mineralogia por Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777-1855), engenheiro de minas e geólogo alemão, a serviço da Coroa portuguesa a partir de 1803. Trata da imediata instalação da Coleção Werner de mais de 3 mil amostras, comprada na Alemanha. Mais tarde esta coleção formaria o núcleo inicial do Museu Imperial, fundado em 1818.
Formada a Real Sociedade Bahiense dos Homens de Lettras. Seu principal promotor, Luís Antônio de Oliveira Mendes, sócio da Academia das Ciências de Lisboa, consegue atrair como membros Domingos Vandelli e José Bonifácio, entre outros, também da Academia.
1811-21 Wilhelm Ludwig von Eschwege realiza suas pesquisas em mineralogia, principalmente em Minas, a serviço da Corte portuguesa no Brasil, cuidando também do aproveitamento econômico dos minerais. Os principais resultados de suas pesquisas foram publicados em Geognostisches Gemälde von Brasilien e principalmente em Pluto Brasiliensis (1833).
1812 Criado pelo príncipe-regente o Laboratório Químico-Prático no Rio de Janeiro, para proceder a operações químico-industriais, tendo, no entanto, suas atividades se degenerado rapidamente para ligeiros exames de produtos e drogas farmacêuticas. 1812 J. Mawe publica em Londres seu relato sobre Travels in the Interior of Brazil (...).
Criado o cargo de diretor dos Estudos Médicos-Cirúrgicos da Corte e Estados do Brasil, sendo nomeado Manuel Luís Alves de Carvalho para ocupá-lo. Publicado por Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, para uso na Academia Real Militar, o folheto Variação dos Triângulos Esféricos, impresso na Impressão Régia.
Criado um Curso Público de Agricultura, para ser dado de dois em dois anos, e nomeado professor de Agricultura o diretor do Jardim Botânico, Domingos Borges de Barros, formado em Coimbra.
1813 Fundado, no Rio de Janeiro, O Patriota, jornal literário, político e mercantil do Rio de Janeiro, dirigido por Manuel Ferreira de Araújo Guimarães. Aparece somente entre 1813 e 1814, tendo nele colaborado entre outros José Bonifácio e Silvestre Pinheiro. 1813 Manuel Ferreira de Araújo Guimarães publica em O Patriota, jornal que dirige, suas "Reflexões sobre as Derrotas de Estima e Suas Correlações".
Primeira reforma do ensino médico do Brasil, empreendida por Manuel Luís Alves de Carvalho, diretor dos Estudos Médicos-Cirúrgicos da Corte e Estados do Brasil, Esta reforma, ao'contrário da tentativa de 1812 de Navarro de Andrade, é medíocre e sem visão. Prevê um curso de cinco anos. Falhou, no entanto, pelas resistências a ela opostas.
1813-14 Publicadas em Londres, na revista Patriota Brasileiro, observações meteorológicas feitas no Rio de Janeiro, na época.
1814 O príncipe-regente D. João abre ao público a Biblioteca Real, com 60 mil volumes, que em 1808 trouxera de Portugal, instalando-a no Hospital dos Terceiros do Carmo, dando assim origem à Biblioteca Imperial, transformada em 1889 em Biblioteca Nacional. 1814 Apresentada na Academia Real Militar; por João dos Santos Barreto, pequena memória intitulada Memória de Trigonometria, publicada somente em 1823, pela Tipografia Nacional.
Publicados no Rio de Janeiro, pela Impressão Régia, os Elementos de Astronomia para Uso dos Alunos da Academia Real Militar Ordenado por Manoel Ferreira de Araújo Guimarães. Embora sem originalidade, mostra estar perfeitamente a par dos progressos na astronomia até então.
1815 Francisco Vilela Barbosa, futuro marquês de Paranaguá, publica, às custas da Academia Real das Ciências de Lisboa, seus Elementos de Geometria, de grande popularidade no Brasil e em Portugal.
Apresentado à Academia Real Militar do Rio de Janeiro o trabalho Ensaio Trigonométrico, por Manuel José de Oliveira. Junto com os opúsculos de João dos Santos Barreto e Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, foram esses .os primeiros e ao mesmo tempo os mais interessantes escritos no país, até a Independência, segundo Oliveira Castro.
Publicados pela Impressão Régia no Rio de Janeiro os Elementos de Geodésia para Uso dos Discípulos da Academia Real Militar Desta Corte Ordenados por Manoel Ferreira de Araújo Guimarães.
1815-17 Viagem do príncipe Maximiliano von Wied-Neuwied, naturalista de grandes recursos, para observações zoológicas, botânicas e etnológicas na região entre Rio de Janeiro e Salvador, com grande incursão no interior da Bahia até as fronteiras com Minas. Resultados publicados em Reise nach Brasilien (1820-21), e Beitrage zur Naturgeschichte Brasiliens (1825-32).
1815-31 O naturalista Friedrich Sellow, cuja vinda se deve a Langsdorff, viaja pelo interior de Espírito Santo e Bahia, acompanhado por Freyreiss e pelo príncipe Maximiliano von Wied-Neuwied; por São Paulo e Minas, com Von Olfers; e pelo Sul, Mato Grosso e Goiás. Seu material foi o mais utilizado para a Flora Brasiliensis de Von Martius.
1816 O Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia é obrigado a se enquadrar na Reforma Alves de Carvalho, de 1813, e passa a funcionar de modo efetivo. 1816-22 Permanência no Brasil do botânico Auguste de Saint-Hilaire, tendo viajado pelos estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Enviado pelo Museu de Paris, junto com Pierre Antoine Delalande, que ficou poucos meses. Resultados publicados em Flora Brasiliae Meridionalis (Paris, 1824-33) e relatórios de viagem, como a Viagem à Província de São Paulo e Resumo das Viagens ao Brasil. Província Cisplatina e Missões do Paraguai.
1817 Criada no Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia uma cadeira de Química, sendo nomeado para regê-la Sebastião Navarro de Andrade, doutor pela Universidade de Coimbra. Destinava-se ao ensino de medicina, cirurgia, farmácia, agricultura e diversos outros fins úteis. Ao contrário das instruções, era teórica e funcionou muito precariamente. 1817 Chega ao Brasil a missão cultural e científica austríaca; acompanhando a arquiduquesa Leopoldina d'Áustria, trazendo os zoólogos J. C. Mikan, Johan von Natterer, Johan Baptist Spix, Giuseppe Raddi, o botânico Karl Philipp von Martius, os naturalistas Schott e Pohl e o desenhista Ender.
Publicada a Corografia Brasílica ou Relação Histórico-Geográfica do Reino do Brasil, do padre Manuel Aires de Casal, primeiro manancial de notícias sobre o conjunto do país.
Francisco de Borja Garção Stockler, no Rio de Janeiro, escreve a última nota para seu Ensaio Histórico sobre a Origem e os Progressos das Matemáticas em Portugal, publicado em Paris em 1819. Stockler permanece no Brasil até 1820, sendo membro da junta de direção da Academia Real Militar desde 1815 até aquela data.
Francisco Vilela Barbosa publica seu Breve Tratado de Geometria Esférica, em aditamento à primeira edição de seus Elementos de Geometria.
1817-35 Permanência no país do zoólogo Johan von Natterer, da missão científica austríaca, cuja remessa de espécimes do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Minas, Goiás, Mato Grosso, Amazonas e Pará alimenta anos afora os cientistas do Museu de Viena. Na remessa se destacam 1.146 mamíferos, 12.295 aves e 2 mil vidros de helmintos.
1818 D. João VI (1797-1826) funda no Rio de Janeiro o Museu Real, posteriormente Museu Imperial e depois Museu Nacional, por sugestão de Tomás de Vila Nova Portugal, "para propagar o conhecimento, promover estudos nas ciências-naturais e conservar material digno de observações". Seu primeiro diretor foi o franciscano Fr. José da Costa Azevedo, falecido em 1822. Após um ano de interinato de João de Deus e Mattos, é nomeado para o cargo o químico João da Silva Caldeira, formado em Edimburgo.
1819 É ampliado e aberto ao público, por D. João VI, seu criador, o antigo Real Horto, agora sob nome de Real Jardim Botânico, mantendo sua função original de jardim de aclimação. É anexado ao Museu Nacional, ficando assim sob direção de alguns cientistas ilustres, como frei Custódio Serrão, César Burlamaqui e P. G. Pais Leme. 1819 Publicado em Roma Di Alcune Specie Nuové di Rèttili i Plante Brasiliane, por De Raddi, integrante da missão científica austríaca.
1819-20 Expedição hidrográfica francesa para o mapeamento detalhado do litoral brasileiro.
1820 Instituída, pelo príncipe-regente, uma pensão de 600$000 ao naturalista Frederico Sellow, "a fim de se occupar em algumas viagens e explorações philosophicas por diversas partes do Brasil", com obrigação de repartir as coleções. Esta comissão foi confirmada e regularizada por D. Pedro I em 1821. 1820 O barão Von Langsdorff, nomeado cônsul da Rússia, é encarregado por esse país de organizar uma comissão científica, da qual fazem parte Freyreiss, Riedel, botânicos; Christian Hasse, zoólogo; e o naturalista-colecionador Eugène Ménétriès. O herbário de 60 mil exemplares foi levado para São Petersburgo.
Frei Leandro do Sacramento publica sua Nova Plantarum Genera e Brasília.
Publicado em Viena o Delectus Florae et Faunae Brasiliensis, de J. C. Mikan, como primeiro resultado da missão científica e cultural austríaca
1821 Por ato do então regente D. Pedro I, é decretada a entrada franca de livros no país. 1821-33 Publicadas as Zoological Illustrations, de William Swainson, resultado de sua permanência em Recife e no Recôncavo Baiano em 1816-17, durante a qual remeteu 760 espécies de aves e 20 mil espécies de insetos.