Simon Schwartzman
Publicado na Revista Dados, 7, 1970, pp. 9-41. O autor Agradece os comentários e criticas de Amaury de Souza, Bolívar Lamounier e Peter McDonough, além do interesse e debate incessante sobre os temas aqui discutidos com os alunos do IUPERJ, que também colaboraram neste volume.1. Uma ordem privada?
2. Antecedentes históricos
3. Duas ideologias de mudança política
4. A dualidade brasileira
5. Origens históricas5.1. Modificações demográficas no século XIX
5.2. Estagnação e Ressurgimento Econômico
5.3 Centralização Política e Aumento do Poder
5.4. Representação Política
6. Descentralização Republicana
6.1 A nova centralização e depois
7. Conclusões: algumas implicações teóricasNotas
Simon Schwartzman | "Representação e Cooptação Política no Brasil" |
Período Colonial: Fernando José Leite Costa | "Processo de Diferenciação na Sociedade Colonial" |
Império: Lúcia Maria Gaspar Gomes e Olavo Brasil de Lima Jr.. | "Atores Políticos do Império" |
Transição: Maria Antonieta de A. Parahyba | Abertura Social e Participação Política no Brasil" (1970 a 1920) |
Transição: Nancy Aléssio | "Urbanização, Industrialização e Estrutura Ocupacional" |
Transição: Irene Maria Magalhães | "Antecedentes da República: Intervencionismo: militar e legitimidade" (publicado como nota de pesquisa) |
Revolução de Trinta: Celina do Amaral Peixoto M. Franco, Lúcia Lippi de Oliveira e Maria Aparecida Alves Hime | "O contexto político da Revolução de Trinta' |
"Os reinos conhecidos pela história têm sido governados de duas formas. Pelo Príncipe e seus servos, que, como ministros por sua graça e permissão, o assistem no governo de seus domínios; ou por um príncipe e seus barões, que ocupam posições não pelo favor do governante, mas pela antiguidade do sangue". Machiavel, O Príncipe.Introdução: um modelo analítico - Estado e Sociedade
a . interação entre os subsistemas político c valorativo: problemas dc legitimação política; b. interação entre os subsistemas político e o público: problema de apoio político; c. interação entre os subsistemas valorativo e integrativo: problemas de lealdade e solidariedade política.
Quadro 1 - Subsistemas Funcionais e Processos De Mudança | |||
FUNÇÃO | SUBSISTEMA | PROCESSO | INDICADORES |
A- (adaptação) | econômico | crescimento | renda per cápita, consumo de energia per cápita, etc |
G (realização de objetivos) | politico | crescimento e diferenciação do Estado | % do PIB em atividades governamentais, % da população ativa ocupada pelo governo, % da população servida por serviços públicos, etc. |
I (integração) | "O público", associações e grupos secundários | participação política | dados sobre sindicalização, participação em partidos políticos, comparecimento eleitoral, etc. |
L (manutenção de pautas e valores) | "Valorativo", familiar e educacional | modernização e secularização | urbanização, expansão de meios de comunicação de massas, expansão do sistema educacional, migração,tc. |
Quadro 2 - Dominância, Interações Funcionais e Estilos de Participação Política | ||
PROCESSO DOMINANTE | PROCESSO DEPENDENTE | "ESTILO" DE PARTICIPAÇÃO (processo integrativo) |
A -. desenvolvimento econômico | crescimento e diferenciação do Estado | representação politica |
b. crescimento e diferenciação do Estado | desenvolvimento econômico | cooptação política |
c. modernização e secularização | crescimento e diferenciação do Estado | movimentos coletivos por mobilização autônoma, populismo |
d. crescimento e diferenciação | modernização e secularização | mobilização induzida, do Estado nacionalismo, paternalismo |
Quadro 3 - Correlatos de Representação e Cooptação Política | ||
REPRESENTAÇÃO | COOPTAÇÃO | |
setor dinâmico: | economia de exportação | o estado político |
tipo de industrialização: | baseada em mercado livre (não necessariamente competitivo) | baseada em incentivos governamentais |
relações exteriores: | baseadas em laços (ou hostilidades) econômicos | baseadas em laços (ou hostilidades) inter-governamentais ou inter-nacionais |
Tipo de Participação política: | ||
a. nível das elites: | agregação de grupos de interesse | "Classe política" cooptada, coronelismo |
b. classe operária: | sindicalismo autônomo | sindicalismo corporativista |
c. setores flutuantes de classe média e baixa: | populismo carismático | populismo paternalista |
Ideologias políticas: | ||
a. À direita | liberalismo econômico | moralidade publica e controle social |
b. Ao centro | eficiência empresarial | planejamento central baseado em estímulos governamentais à iniciativa privada |
c. À esquerda | objetivos anti-capitalistas | nacionalismo |
Quadro 4 - Percentagem de Votos para Partidos Nacionais e Regionais nas Eleições Parlamentares de 1950 (6 Maiores Estados) (+) | |||
% de votos para partidos | % de votos de todo o Brasil no Estado | ||
Estado | nacionais (1) | regionais (2) | |
SP | 42,0% | 58,0% | 18,0% |
MG | 87,2 | 12,8 | 15,0 |
RS | 81,9 | 18,1 | 10,0 |
RJ | 77,3 | 227 | 6,0 |
BA | 73,1 | 307 | 7,0 |
DF | 69,3 | 30,7 | 7,3 |
BRASIL | 71,7 | 28,3 | 100% |
(+) Calculado de Orlando M. de Carvalho, "Os Partidos Nacionais e Parlamentares de 1958". Revista Brasileira de Estudos Políticos, 8, abril da 1960, pp.18/19. (1)- PSD, PTB o UDN (2)- PSP, PR, PDC e 6 outros |
Quadro 5 - São Paulo e Brasil: Alguns Dados Demográficos, Sociais e Econômicos Comparativos | |
% do total em São Paulo: | |
Demográficos: | |
população (1960) | 18,3 |
Sociais: | |
telefones ( 1966 ) | 39,2 |
veículos | 38,8 |
estradas federais pavimentadas | 18,4 |
bibliotecas populares e especializadas (1965) | 21,5 |
teatros e cinemas (1964) | 27,0 |
estações de radio (1966) | 26,7 |
circulação de jornais (1966) | 42,4 |
Econômicos: | |
valor da produção industrial (1960) | 55,1 |
consumo de energia elétrica (1966) | 52, |
arrecadação de impostos federais (1966) | 41,3 |
FONTE: IBGE, Anuário Estatístico, 1965 a 1966 |
Quadro 6 - Taxas Anuais de Crescimento Populacional por Região | ||
Região: | 1808/1854 | 1854/1890 |
Norte | 2,1 | 1,72 |
Nordeste | 2,31 | 1,28 |
Leste | 2,82 | 1,66 |
Centro Oeste | 2,73 | 0,59 |
Brasil | 254 | 1,79 |
Fonte: Hélio Mathias, "A sociedade civil no Império: crescimento da População". Documento de trabalho do IUPERJ |
Quadro 7 - Exportação Brasileira até 1931 (valores em Libras de 1950) | ||||
Milhões de libras | % do café no valor total | % do segundo maior produto | ||
nominal | valores de 1950 | |||
1821 | 4,3 | 9, 4 | 16,3 | 25,3 (+) |
1829 | 2,1 | 4,6 | 20,5 | 37,2 |
1830 | 3,3 | 7,4 | 19,8 | 36,7 |
1940/1 | 5,3 | 10,4 | 42,7 | 28,5 |
1850/1 | 8,1 | 21,5 | 48,1 | 23,3 |
1860/1 | 13,2 | 25,0 | 64,7 | - |
1870/1 | 15,4 | 34,0 | 50,3 | - |
1872/3 | 22,3 | 45,0 | 37,6 | 14,7 |
1880/1 | 21,2 | 51,0 | 54,6 | - |
1890 | 26,3 | 75,0 | 50,3 | - |
1900 | 33,1 | 90,0 | 67,7 | - |
1910 | 63,0 | 160,0 | 42,3 | 39,1 (++) |
1920 | 82,3 | 67,5 | 49,1 | 6,0 (+) |
1929 | 94,8 | 156,0 | 71,0 | - |
1930 | 6,7 | 130,0 | 62,6 | - |
1931 | 49,5 | 122,0 | 68,9 | - |
(+) açúcar (++) borracha | ||||
Fontes: IBGE, Anuário Estatístico, 1940 e 1966; APEC, Estudos, A Economia Brasileira e suas Perspectivas, 4 volumes; e Oliver Onody, A Inflação Brasileira 1820-1958 (Rio, 1960) para o índice de conversão em libras para 1950. |
Quadro 8 - Despesas Governamentais e Exportações no Brasil, Século XIX (em 1.000 Contos De Réis) | |||
Ano | DESPESAS GOVERNAMENTAIS | EXPORTAÇÕES | DESP/EXP (%) |
1823 | 4.702 | 20.623 | 22,80 |
1831/2 | 12.836 | 32.431 | 29,79 |
1840/1 | 19.073 | 41.672 | 39,79 |
1852/3 | 29.368 | 73.745 | 39,87 |
1860/1 | 45.950 | 123.171 | 37,30 |
1870/1 | 83.435 | 168.000 | 49,66 |
1889 | 138.108 | 256.095 | 53,30 |
FONTE: Dados coligidos por Sérgio de Rocha e Souza e Luís Werneck Vianna. Dados para a equivalência entre moedas brasileira e inglesa são encontrados em Olivar Onody. A Inflação Brasileira (Rio, 1960). |
Quadro 9 - Receita Pública no Período Imperial | ||
RECEITA | 1831/32 | 1888 |
Importações | 29,5% | 61,0% |
Interior | 42,7% | 10,0% |
Exportações | 6,0% | 28,0% |
Total (contos de réis) | 11.1 milhões | 145,2 milhões |
Fonte: Vera Maria Pereira Borda, "Independência e subordinação d Economia Imperial", IUPERJ, Documento de Trabalho. |
Quadro 10 - Províncias de Origem dos Membros dos Gabinetes do Segundo Reinado | |||
de 1840 a 1953 | de 1857 a 1871 | de 1873 a 1889 | |
Pará | 1,75 | 1,59 | - |
Maranhão | - | 1,59 | 1,75 |
Piaui | - | 6,35 | 5,00 |
Ceará | - | - | 2,50 |
Paraíba | - | - | 2,50 |
Pernambuco | 12,28 | 14,28 | 10,00 |
Sergipe | - | - | 2,50 |
Bahia | 26,32 | 34,92 | 22,50 |
Minas Gerais | 19,30 | 7,94 | 32,50 |
São Paulo | 7,02 | 7,94 | 2,50 |
Santa Catarina | 1,75 | 1,59 | - |
São Pedro (Rio Grande do Sul) | - | 1,59 | 2,50 |
Total Brasil (100%) | 37 | 63 | 40 |
Este quadro sumaria os dados detalhados no quadro 11 apresentados em "Atores Políticos do Império", neste volume. |
"Tinha São Paulo o direito de abandonar a Federação ao domínio - por vezes exclusivo - de estadistas menos adiantados, de permitir a politicagem utilitária do "empreguismo", desanimando todas as coragens cívicas, pelo apoio sistemático aos mandões regionais, pela expropriação injusta dos mandatos? Pois bem: a abstenção de São Paulo não se limitou aos cargos de nomear, que têm constituído o alvo e a ambição de quase todos os homens públicos do país. Perdemos totalmente a influência legislativa, tanto na Câmara Federal quanto no Senado. Fomos completamente excluídos de um dos poderes da República, pois no Supremo Tribunal Federal, a esta hora não há um único juiz de São Paulo. Entretanto, deles dizia Rui Barbosa: 'Podemo-nos consolar da fraqueza de seus políticos, ao menos, com a serenidade impoluta dos seus magistrados'. Não temos um só representante no Conselho Superior do Comércio. Na Diplomacia, como na Magistratura, na Marinha, como no Exército, nos poderes do Estado, por toda parte, em todos os postos de influência e de autoridade, São Paulo está sistematicamente excluído".(41)O que mais lhe importava não era a falta de instrumentos para uma política de clientelismo e apadrinhamento, tão essencial em um sistema em que o poder emana do acesso aos instrumentos de administração. O problema principal era ter-se negado a São Paulo a representação política adequada através da qual os objetivos de sua elite pudessem ser alcançados. Não era, assim, uma simples questão de discriminação regional, mas o confronto de dois estilos e objetivos políticos distintos e conflitantes. O resultado, mais uma vez, foi a vitória da cooptação sobre os esforços de representação.
Quadro 11 - Eleições Competitivas na República Velha | |||
1910 | 1914 | 1930 | |
Estados em oposição | São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro | Bahia | Minas, Bahia, R. Grande Sul |
Candidato da oposição | Rui Barbosa | Rui Barbosa | Getúlio Vargas |
Média das percentagens de votos do candidato vencedor nos Estados da situação | 89,5 (16 Estados) | 95,60 (10 Estados) | 85,44 (9 Estados) |
Média das percentagens de votos do candidato da oposição em seus Estados | 73,75 (Bahia e São Paulo) | 62,21 (1 Estado) | 84,83 (3 Estados) |
Média das percentagens de votos dos candidatos vencedores em cada Estado | 87,79 (18 Estados) | 94,00 | 85,29 |
Percentagem de votantes sobre a população total. | 1,64% | 2,14% | 5,10% |