A convite da Comissão Especial para Reformulação do Ensino Médio – CEENSI da Câmara de Deputados, participei em 13/08/2013 de uma audiência pública aonde tive a oportunidade de apresentar algumas propostas sobre como o ensino médio brasileiro deveria ser reformulado. Os pontos principais desta proposta são diversificar , permitindo que os estudantes escolham as áreas a que queriam se dedicar; fazer com que o ensino técnico de nível médio seja uma opção, e não, como é hoje, uma formação subsidiaria ao ensino médio tradicional; aprofundar, dando condições para que os estudantes dediquem mais tempo a duas ou três áreas de estudo, no lugar do currículo extenso e pesado que existe hoje; e alterar o ENEM, que deve deixar de ser uma prova única de todas as áreas e ser substituído por uma variedade de avaliações e certificações técnicas e profissionais conforme as opções dos alunos. A proposta inclui também a necessidade de manter e aprofundar as competências no uso do português, do raciocínio lógico e matemático e da língua inglesa, tanto quanto possível de forma integrada com as áreas de estudo escolhidas. Esta reformulação, que requer mudanças na legislação, não resolveria outros problemas que afetam a educação brasileira como um todo, como a má formação e carência de professores em determinadas disciplinas, escolas com instalações precárias, cursos noturnos e problemas de mau gerenciamento. Mas permitiria que fossem buscados novos caminhos e que a educação secundária brasileira deixasse de ser a anomalia que é por sua concepção equivocada.
O texto da proposta está disponível aqui.
Caro Simon, cheguei a pensar que fosse o único a enxergar dessa forma. Concordo com o essencial: reduzir drasticamente o conteúdo, dar oportunidade de opção ao jovem (que já está, ou deveria estar, se tornando um adulto), reforçar o que é indispensável para uma vida futura com qualidade (português, matemática e Inglês) e exigir cursos profissionalizantes que profissionalizem. Sem querer polemizar, não vejo necessidade de olhar para fora do país para entender que 14 disciplinas simultâneas impedem o aprendizado de qualquer uma delas.
Boa noite.
Pensei, vejo que erradamente, que o tema levaria a uma troca mais alentada de idéias.
Não conheço a fundo os parâmetros da “Escola Única”. Mas, penso em algumas “experiências” do passado. Penso no Grupo Escolar Olavo Bilac, em Resende/RJ onde estudei. E ao qual voltei anos depois já como funcionário público. Justo na época dos CIEPs aqui no Rio, também. Das inúmeras reuniões e conversas, mesmo as informais, restou-me a impressão de que se tratava de algo bastante semelhante muito embora separadas – as escolas e/ou “modelos”, por décadas.
Modelos “únicos”, me parece têm, em nosso país, tudo para não funcionar a contento. Temos, felizmente, uma diversidade de usos e costumes a serem respeitados. E realidades sócio e econômicas também diversificadas.
Denominadores comuns? Certamente os há. Mas, embora signifique muito trabalho, creio ser não apenas possível mas recomendável o respeito à diversidade. Que não é imutável no tempo.
Pela vertente de um pensamento em escala macro, realmente sinto com pesar a ausência ou esgarçamento e redução de importância no que poderia ser uma Política de Estado para a Educação. Ao invés da manutenção de paradigmas ultrapassados, como por exemplo a gratuidade do ensino superior universal ( nas U. Públicas) e a introdução das tais : “Políticas Públicas” aqui e ali ao menos que pareça, de forma desarticulada.
Esta desarticulação, me parece, tem início mesmo na existência de órgãos centrais, com poder normativo, mas atuando, formalmente,
em separado. A ponto de um ministro indagar o que museus têm a ver com educação. Aparentemente sem se dar conta da tendência de considerar museus como extensões e mesmo polos de difusão de educação. Ultrapassada a muito a noção antiquada de “coleções” extáticas e isoladas do alunado em aprendizado.
Ajscampello
Boa noite.
Li a proposta. Bem articulada.
O pouco que conheço deste campo – Educação, me conduz a um mínimo de balizamentos centrais e a muita diversificação.
Em apoio a esta maneira de pensar trago à consideração dos que se interessam o fato de que, se em um ente federado ou em uma região que se estenda além das fronteiras políticas de entes federados, prevê-se que em “X” anos pretende-se implantar um destes portos de que tanto se fala, ao menos uma parcela dos cursos técnicos podem e devem ser reorientados para as profissões a serem demandadas. E, fica evidente que o Ensino Médio pode e deve, também ser reorientado alterando-se a ênfase neste ou naquele sentido.
O engessamento , a centralização, podem resolver questões de Educação em países com pouca diversidade regional e pouca extensão geográfica. No nosso, penso que pode exacerbar ao invés de resolver.
Boa noite. Ajscampello
Prezado Simon,
Sua proposta é um excelente esforço para conferir objetividade a Oferta do Ensino Médio .
1-Destaco como contribuição mais importante o item -2, “dimensão institucional “. Não tenho comentários a fazer.
2-Na “reforma curricular”, gostaria de entender o porquê da sua opção pela matemática, em detrimento, da física, da química e da filosofia- as bases do pensamento moderno. No que tange a filosofia, não me refiro ao conteúdo em si mas,mas o desenvolvimento da lógica, da dúvida sistemática, da dialética, enfim de formas de raciocínio rigoroso. Da Física fiquemos com a capacidade de imaginar o mundo físico, com suas leis e caos. Falta a nós brasileiros, a capacidade de pensamento rigoroso, capaz de encaminhar uma questão deste seu enunciado, inicial ,até a sua condução operacional , com sua marchas e contramarchas, teses, antíteses e sínteses, quando for o caso.
3- A Certificação Profissional é ótima proposta. Fico, contudo, na dúvida se não representaria, para o estudante, mas uma cadeia de obstáculos a sua inserção profissional. Ainda que considere ser esta solução mais pertinente para comprovar o exercício profissional.
4- Aspecto mais delicado da proposta: articular uma proposta de “Diversificação do Ensino Médio” quando há consenso na academia, exaustivamente trabalhado, ao longo de década, sobre a proposta de uma “Escola Única”. Consenso este que se espraiou para escolas e docentes.Esta discussão corre ao mínimo de 20 anos.c
Atenciosamente,
Ana Maria de Rezende Pinto
Este “consenso da academia” está em dissenso com o resto do mundo, e precisa ser revisto. No mais, obrigado pelos comentários sempre valiosos.