Os microdados da amostra do Censo Populacional de 2010 permitem que examinemos mais de perto a situação dos profissionais da educação no Brasil, o que faremos nesta e nas próximas postagens.
A amostra permite estimar a existência de cerca de 3.5 milhões de pessoas com atividade profissional na área de educação, a maior parte dos quais atuando na educação fundamental. Destas, somente 2.3 milhões, ou 65%, têm formação de nível superior. Em teoria, todos os professores universitários deveriam ter um doutorado ou pelo menos um mestrado; todos os professores de nível médio deveriam ter uma licenciatura em sua área de especialização; e todos os professores de educação básica e da pré-escola deveriam ter pelo menos nível universitário de formação.
Sabemos que o título, em si, não garante que a pessoa vá ser um bom professor ou professora, mas sabemos também que ninguém consegue ensinar o que não sabe, ou lidar com crianças sem estar preparado para isto. Nos cursos superiores, aonde os professores deveriam ter nível de doutorado ou pelo menos mestrado, 36% só têm o título inicial de graduação, e 7% só têm educação média ou menos. No ensino médio, aonde todos os professores deveriam ter uma licenciatura de nível superior, 14% não chegam a esta qualificação. No ensino fundamental, aonde a formação superior também é exigida, 26% só têm formação de nível médio, e 6% nem isto. No ensino pré-escolar 10% dos professores não têm sequer o nível médio, e só a metade têm formação de nível superior. (a tabela com os dados está disponível aqui).
Se trata, em parte, de uma situação transitória – a pós-graduação brasileira ainda é recente e está se expandindo, e a exigência de nível superior para os professores de educação fundamental também é recente. Mas isto tem levado a uma política de valorização dos diplomas, mais do que de formação efetiva, que em parte explica porque a a área de formação de professores é uma das que tem mais se expandido nos anos recentes na educação superior brasileira. Este processo já avançou bastante no ensino médio, mas falta ainda muito para se completar no ensino fundamental. A situação é particularmente dramática na pré-escola, que tem se expandido muito rapidamente sem qualquer esforço mais significativo de qualificação de professores para este segmento, que hoje se considera de grande importância estratégica pelo impacto da educação inicial no desempenho futuro das crianças, mas que ainda continua sendo considerada, em grande parte, como atividade assistencial, e não efetivamente educacional. E o mais grave é que a simples titulação não garante a melhora da qualidade da educação, sobretudo quando ela ocorre de maneira apressada, em cursos de qualidade muitas vezes duvidosa, realizados frequentemente à distância ou em programas noturnos.
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