Progresso Mal Educado

O caderno Aliás, do Estado de São Paulo de hoje, 14 de novembro 2010, publica uma entrevista minha a propósito dos problemas do ENEM cujo texto também  está disponível aqui,

Uma das perguntas era sobre a comparação dos governos FHC e Lula na área da educação. O qu disse foi que “A coisa mais importante da gestão Paulo Renato foi a criação do Fundef, que depois virou Fundeb – e equacionou o financiamento da educação fundamental. Foi essa norma que estipulou a distribuição de recursos conforme o número de alunos. No ensino superior, não acho que ele tenha conseguido muita coisa: o ensino privado cresceu sozinho, pois o sistema público continuou fechado e elitista, tal como foi pensado na reforma de 1968, ainda no período militar. Embora tenha criado o Provão e estimulado uma gestão mais responsável dos recursos pelas próprias universidades, Paulo Renato enfrentou greves e grande resistência política. No caso do governo Lula, houve a criação de algumas universidades, mas em boa parte apenas no papel: instituições que já existiam e apenas mudaram de nome. A política do atual governo tem sido a de dar tudo o que as universidades públicas querem, sem pedir nada em troca. Houve um esforço no Reuni, quando se estimulou que elas a aumentassem o número de vagas, criando cursos noturnos. Mas sem clareza sobre em que áreas, de que maneira, para que tipo de público. E teve o Prouni, uma política que faz sentido, de se usar as vagas do setor privado para responder um pouco à demanda. Curiosamente, antes de Lula, essa ideia de subvencionar o estudo no setor privado era um tabu, não se podia fazer no Brasil.”

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

2 thoughts on “Progresso Mal Educado”

  1. Sua entrevista para o Estado foi maravilhosa. Concordo totalmente com vc em tudo. Acho que o Fundef foi realmente a maior contribuição do governo FHC e o Fundef foi, felizmente, ampliado com o Fundeb no atual governo. Só acrescentaria que outro grande feito do governo FHC na área da educação foi ter refeito as estatísticas educacionais no sentido de captar o fluxo dos alunos no sistema de ensino. Quando o Sergio Costa Ribeiro escreveu a Pedagogia da repetência em 1991, as contas do MEC estavam erradas porque eles contavam alunos repetentes como alunos novos. O Paulo Renato entendeu a questão e adotou-se nova metodologia para a avaliação das estatísticas sobre o ensino básico. Sem esta nova metodologia e sem ter apontado para o maior problema da educação na altura e ainda hoje, a repetência, o governo FHC e o governo Lula não teriam conseguido o pouco que se conseguiu até aqui neste nível de ensino e estaríamos ainda construindo escolas como se fazia antes. Em 1991 a repetência, segundo as contas do Sergio era de 59% no primeiro ano do ensino fundamental. Hoje está em torno de 20% se não me falha a memória. Acho que você no IBGE deu força para que os dados fosse coletados corretamente para espelhar o que realmente ocorria nas escolas. As crianças não saiam da escola porque tinham que trabalhar. Saiam porque eram retidas nas séries iniciais por muitos anos. Em 1991, os alunos que conseguiam completar as 8 séries obrigatórias levavam, em média, 12 anos. O Inep deu enorme contribuição para a avaliação da educação que se tornou, felizmente, uma rotina que não era comum antes do Fernando Henrique. Aliás, não havia propriamente um sistema de avaliação antes do governo Fernando Henrique a não ser o excelente sistema de avaliação da pós-graduação implantado pelo Claudio Moura Castro quando esteve na Capes.

    O Enem, como vc disse, era um instrumento de avaliação e não uma prova, um exame. Fico me perguntando por que tanto barulho com o Enem? Por que tão pouca ênfase nas avaliações do ensino fundamental? O governo FHC deu mais ênfase ao ensino básico e colocou um freio nos anseios desmedidos das ifes. No entanto, pagou um preço alto por isso. Esse governo enfatiza tudo o que as camadas médias almejam e o ensino universitária é um objetivo dessas camadas médias que crescem, não é mesmo? O povo desorganizado, as crianças e jovens que estão no ensino fundamental, não estão tão organizados e assim hoje há menos gente lutando por eles no governo, penso eu.
    Será que exagerei? Estou certa?

  2. Simon, nao menospreze as positivas mudancas regulatorias adotadas por PRS, que apoiaram o crescimento do ensino superior privado, com aumento de equidade no ingresso no ensino superior. Sem elas, a expansao teria sido significativamente menor. Orientei uma dissertacao de mestrado bem convincente sobre isso.

    Quanto a Lula, creio que faltou destacar o Prouni, um excelente programa, complementar aas iniciativas do governo FHC.

    No mais, concordo. Abracos, creso

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