A próxima eleição para reitor da Universidade de São Paulo está permitindo iniciar uma discussão interna muito necessária sobre como deve ser e como deve evoluir a mais importante universidade do país, que tem passado por um período difícil de conflagrações, burocratização e falta de rumo. Seis professores – Adalberto de Fazzio, Glauco Arbix, Hernán Chaimovich, Jorge Kalil Filho, Marco Antonio Zago, Renato Janine Ribeiro , Vahan Agopyan – lançaram um manifesto em que afirmam que a USP precisa urgentemente mudar, a partir da liderança de seus professores mais qualificados, que hoje muitas vezes se mantêm isolados em seus departamentos e projetos, ante a rigidez burocrática e as dificuldades de gestão da universidade, “acompanhadas muitas vezes de atitudes de rejeição à liderança destes cientistas nas estruturas departamentais”.
O manifesto diz ainda que “a existência de grupos ou cursos de reduzida relevância acadêmica, quer no ensino ou na pesquisa, é sim responsabilidade da reitoria e das diretorias, e exige formas criativas de intervenção por parte das autoridades acadêmicas, visando a garantir que uns mantenham ou ampliem a sua liderança e outros passem a estar à altura da missão da USP”. Esta é uma proposta realmente revolucionária no meio universitário brasileiro, em que predomina uma falsa democracia que trata a todos os departamentos e cursos das instituições como iguais, independentemente da contribuição que estejam dando em termos dos objetivos científicos e educacionais das instituições. O manifesto é muito mais do que isto, e o texto integral está disponivel aqui.
Em 2006 escrevi um artigo, “A universidade primeira do Brasil: entre intelligentsia, padrão internacional e inclusão social.“ “Brazil’s leading university: between intelligentsia, world standards and social inclusion”, em que dizia que a USP, pelos recursos humanos e financeiros que tem, teria todas as condiçoes de se transformar em uma universidade de padrão efetivamente internacional, pela qualidade de suas pesquisas e dos profissionais que forma, pela contribuição que pode dar para a sociedade e para a economia, e pela janela que pode significar para os avanços da ciência e da tecnologia em todo o mundo. O que parecia faltar era, aparentemente, um consenso interno a respeito da importância de assumir este papel e das transformações institucionais necessárias para ir adiante. Acredito que este manifesto reflete a mesma preocupação, embora colocada em outros termos, e espero que possa ter a repercussão e os efeitos que a Universidade de São Paulo merece.