Ontem eu publiquei uma nota comparando os dados da PNAD / IBGE de 2004 e 2005, tratando de entender o aumento do trabalho infantil ocorrido neste período, e sua possível relação com a redução da matrícula escolar, que vem aparecendo no censo escolar do Ministério da Educação. Ao contrário do que eu havia dito naquela nota, que por isto foi retirada, os dados na PNAD não acusam a redução da matrícula escolar, e sim um pequeno aumento, além de uma redução pequena, mas salutar, na proporção de jovens de 15 a 17 anos que ainda estão no primeiro grau. Minha hipótese, de que o aumento do trabalho infant poderia se dever a uma piora da situação escolar, não pode ser verificada com estes dados. Quando entender melhor o que está passado, digo.
Guiomar tem razão em que nem todo o trabalho infantil é prejudicial, e é preciso olhar bem o que estes números significam. Mas o conceito de trabalho infantil do IBGE tem se mantido o mesmo desde pelo menos o início da década de 90, e por isto o aumento que se observa agora não pode ser atribuido a uma ampliação do conceito.
Também pode ser um aumento no registro de trabalho infantil ou uma ampliação do conceito do mesmo ou ambos. Dependendo do conceito, tem muita gente da minha geração e nível de renda de origem que trabalhou: eu tomei conta do caixa da pastelaria do meu pai e, quando fui bolsista interna no colegio, tomava conta da portaria e servia café na sala dos professores. Tem uma que ajudava o pai, alfaiate polones que falava mal e escrevia pior o portugues, a registrar os dados dos clientes em fichas; tem outra que ajudava a mãe, professora de zona rural, a tomar conta da classe e a corrigir caderno dos alunos; tem ainda muita gente que ajudou a tomar conta de irmãos mais velhos. Já a geração dos nossos filhos teve gente que não amarrava o tenis quando era criança porque tinha empregada que fazia, isso e várias outras tarefas domésticas que para mim era natural fazer como enxugar a louça, arrumar o próprio quarto ou colocar o lixo na rua.