Luiz Carlos Faria da Silva: ainda sobre computadores

Luiz Carlos Faria da Silva, da Universidade Estadual de Maringá, envia a seguinte nota:

Em 9/04/2007 recebi uma informação de que o Claudio Moura Castro enviou ao Simon’s Blog um link com reportagem do Washington Post sobre estudo americano pondo em dúvida a eficácia do gasto com softwares em função dos dados de uma pesquisa americana que mostra não haver diferença significativa entre os desempenhos escolares de estudantes que deles se utilizam e estudantes que deles não se utilizam. Gostaria de observar que eu já lhe enviara esse link em mensagem do dia 5 de abril de 2007, dia em que o Washington Post publicou a notícia. Informei também que minha fonte foi a FEE – Foundation for Economic Education.

Não dá tempo para acompanhar tudo. Eu estou o tempo todo ligado na questão da pedagogias eficazes, particularmente nas pedagogias eficazes para alfabetizar. Mas pelo que leio rapidamente sobre o assunto eu nunca tive dúvida de que essa onda de uso de computadores e softwares para a educação escolar não se sustenta se olhada com rigor.

Computador com acesso à internet só é bom na mão de gente que tem alto nível de formação. E na Escola, é bom na Secretaria. Assim mesmo quando há intranet com a Secretaria da Educação.

Nem mesmo posso afirmar que seria bom na mão de Diretores. Depende do Diretor ou Diretora. Quando vamos a uma escola pública de periferia hoje em dia não se consegue diferenciar Diretora de Servente. (Falo em Diretora simplesmente porque é a maioria). Nem pelo linguajar nem pela indumentária.

Eu trabalhei com projetos em algumas escolas da rede pública há pouco tempo. Havia laboratórios de informática. Mas tudo estava sucateado antes do uso. Numa delas os computadores eram usados pelo filho adolescente da Diretora para jogos de VIDEOGAME.

Eu já vi escola com projetos fantásticos funcionado. Mas foi na televisão. Na televisão, tudo é bonito e funciona. Os alunos são entrevistados e dizem o que nós, os coordenadores dos projetos, queremos ouvir. Autodeclaração não é evidência de nada.

O Brasil não aplica políticas baseadas em evidência. Nunca aplicou. Principalmente em Educação. Mas não é necessário fazer grandes pesquisas para saber o tipo de uso que adolescentes e jovens fazem de computadores com acesso à internet quando disso dipõem. Gastam todo o tempo em jogos, bate-papos, MSN e pornografia. Isso está acontecendo hoje nas barbas de todo mundo. Dê um passeio nas periferias do Rio para ver o que acontece nas Lan Houses. Ou então, deixe computadores com livre acesso à internet, sem controle de conteúdo, nas salas das faculdades espalhadas pelo Brasil. Depois veja as páginas visitadas…

Você acha que farão diferente com computadores nas escolas? Ou com LAPTOPS? É uma empulhação esse negócio de um LAPTOP para cada criança. O que farão com eles?

Há inúmeras Prefeitura no Brasil que gastam dinheiro fornecendo Tênis, Mochila, Uniforme às crianças. Alguém no Brasil sabe dizer o impacto do gasto com esses itens no desempenho escolar? As crianças que receberão esses computadores lêem rudimentarmente. E não sabem contar. Mas o que sabem basta para jogar, bater papo, autofotografar-se e fazer a edição dessas fotos para divulgar no ORKUT e no MSN. É lamentável.

Um abraço,

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

2 thoughts on “Luiz Carlos Faria da Silva: ainda sobre computadores”

  1. Olá, Simon! Tenho tentado acompanhar a discussão desse assunto quente (quentíssimo!), mas para mim é um pouco distante, pois não cheguei a utilizar novas tecnologias em sala (o colégio em que eu dava aulas não dispunha de laboratório). Acredito que o uso de computadores, em específico, tem de vir acompanhado do sentido a que se quer dar à aula, e também de afeto. No mais, acho que alguns dos meus alunos devem ter colocado fotos minhas em alguma página de orkut ou em blogs, o que acho divertido, algo do tipo “Minha professora de história”. Simon, eu saí de sala de aula em março, pois ingressei em outro emprego, mas continuarei acompanhando as discussões sobre educação, nesse seu blog que encontrei ao acaso e que achei interessante. Um abraço.

  2. Esse debate sobre o uso de computadores/TI nas escolas está bem interessante. Esclareço logo que não sou especialista no assunto e tenho uma visão, alguns podem dizer ingênua, de que a escola tem que entrar no mundo digital.

    Nos anos 90, Paul Strassmann publicou uma pesquisa onde analisou se haveria alguma relação entre produtividade e investimentos em TI nas empresas. O resultado não mostrou evidências de que quem investiu mais em TI, teve ganho de produtividade. Este foi um estudo que gerou muitos debates, mostrando que não se pode investir em TI como se fosse um elixir para todos os problemas, mas fudamentalmente, mostrou que é preciso ter métricas mais adequadas para avaliar o impacto da TI. No link abaixo tem um resumo do estudo.

    THE ECONOMICS AND POLITICS OF INFORMATION MANAGEMENT
    http://www.strassmann.com/pubs/econ-polim.html (Sumário executivo)

    Não conheço à funto projetos de TI na educação, mas tenho a impressão que muitas vezes há uma preocupação em equipamentos e conectividade sem uma atenção adequada com o conteúdo, não só a oferta de conteúdos prontos, mas também ferramentas para produzí-los.

    Uma vez tive a oportunidade de conversar com um grupo de professores que trabalhavam num nucleo do Proinfo. Eles não tinham instrumentos para fazer atividades educativas com os computadores, pois tudo que tinha era o sistema operacional e o pacote de aplicativos de escritórios. Fica complicado fazer alguma atividade com esses instrumentos.

    Uma coisa que pouca gente enxerga como prioridade também é a possibilidade de construção de softwares educativos. Há um projeto na UFSC muito interessante nesse sentido, o Projeto Classe (Classificação de Software Livre Educativo):
    http://classe.geness.ufsc.br/index.php/CLASSE

    Um projeto que também acho sensacional é a criação de comunidades de colaboração, isso não poderia ser feito sem as novas tecnologias. Elas podem proporcionar uma experiência muito rica de colaboração entre administradores, educadores e alunos. Também acho que vale uma visita ao projeto Escrevendo o Futuro

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