A revista Ensino Superior UNICAMP, em seu número 2, publica uma longa entrevista minha sobre o ensino médio brasileiro e sua relação com o ensino superior. A pergunta inicial é: qual o desafio que o ensino médio coloca para o Brasil atualmente?
Temos alguns problemas básicos no ensino médio. Uma peculiaridade do Brasil, na comparação com outros países da América Latina, Europa, Estados Unidos, é o fato de o nosso sistema de ensino médio ser praticamente um só. Há um pequeno setor de ensino profissional ou técnico, muito pequeno; isso não dá alternativas para os estudantes que queiram seguir diferentes caminhos. A necessidade de um sistema diversificado tem a ver com os interesses diversificados das pessoas; e também com o fato de que a educação básica é muito desigual, e que nem todas as pessoas tem condições de fazer o mesmo tipo de curso médio. Pelo fato de o modelo ser único — o modelo tradicional, acadêmico, ele mesmo com uma série de problemas específicos –, parte das pessoas não conseguem acompanhar o programa e não chegam ao final; ou então, chegam ao final com tantas dificuldades que não têm condições de continuar estudando e de adquirir uma atividade profissional adequada. Temos assim um problema de diversificação; e o sistema predominante, que é quase o único que existe, têm vícios e defeitos, decorrentes de seu conteúdo muito formal e do modelo muito antiquado de ensino, enciclopedista. Há uma carga muito grande de cursos, em que se pede ao aluno decorar e repetir certos conteúdos. O sistema não é formativo e está muito condicionado pela competição para a universidade – o que determina o conteúdo dos cursos. Os cursos considerados melhores no ensino médio são aqueles que preparam melhor para os vestibulares mais competitivos. Essa formação não é muito adequada.
O texto completo da entrevista, em sua versão original, está disponível aqui.
Prezado Simon:
Li, com muito interesse, seu artigo sobre os desafios do ensino Médio no Brasil e gostei muito- é didático, informativo e atual. Destaquei três pontos que me pareceram importante para a discussão deste tema, sempre pendente nos debates sobre o modelo de oferta deste nível de ensino qual seja, o modelo único versus a diversidade, a saber,
1. Por que a diversificação é necessária?
“Se todos os alunos chegassem bem à oitava série do ensino fundamental, poderíamos pensar que seria adequado para eles mais três anos de formação geral- aprender literatura, biologia, filosofia. Seria muito bom”.
O que se tem feito atualmente para se conseguir melhores alunos?
As escolas técnicas federais oferecem cursinhos preparatórios para ingresso; é um começo de enfrentamento do problema da desigualdade de entrada no sistema CEFET.
2. A diversificação com foco, solidez e democracia: o modelo alemão:
“[A] Gesamthochschule alemã. É uma escola integrada, compreensiva, frequentada por diferentes tipos de estudantes; dentro da escola, há a oferta de alternativas de formação. Com isso, o estigma diminui e se permite ao aluno fazer programas diferentes e ajustáveis às suas perspectivas e possibilidades. Há vários níveis de matemática; o aluno que faz uma matemática mais exigente, poderá se candidatar a um curso de engenharia, por exemplo; quem faz Matemática I, não poderá. Dessa forma, o aluno tem opções, alternativas de formação (…).
Dificuldades:
“Não é simples, no entanto, a mesma escola ser capaz de fazer bem coisas diferentes (…)”
3. Um papel para o Governo Federal no Ensino Médio
“O Governo Federal pode influir criando modelos, standards, criando legislação mais adequada; pode também criar programas de incentivo para aspectos específicos.”
Atenciosamente,
Ana Maria de Rezende Pinto