Eu tenho criticado o Ministério da Educação em muitas coisas, e por isto me sinto totalmente à vontade para dizer que ele está absolutamente correto em endosssar a recomendação do Conselho Nacinal de Educação de por fim à reprovação escolar nos três primeiros anos do ensino fundamental.
Em editorial de 20 de janeiro, o Estado de São Paulo, dando uma no prego e outra na ferradura, reconhece os males da reprovação, mas termina dizendo que “aperfeiçoar o ensino fundamental é decisivo para que o país possa promover a revolução educacional. No entanto, a simples adoção da progressão continuada, nos termos em que foi proposta pelo CNE e pelo MEC – sem expansão da rede escolar e sem a modernização dos currículos – não garante melhor alfabetização nem aumento da qualidade da educação”.
O fato de que muita coisa ainda precisa ser feita não pode servir de justificativa para manter a cultura da reprovação em nossas escolas, cujo único efeito é prejudicar, humilhar e marginalizar as crianças reprovadas. Não há dúvida que, em alguns casos, o fim da reprovação foi entendido como significando que não era mais preciso avaliar e cobrar resultados dos alunos. Mas mesmo assim, não há nenhuma evidência de que a progressão continuada tenha piorado o desempenho do sistema escolar, como observado ao longo dos anos no Estado de São Paulo.
Com os sistemas de avaliação que existem, com as experiências bem sucedidas de programas de recuperação e aceleração da aprendizagem, e com tudo que sabemos sobre os efeitos danosos da reprovação, esta discussão já deveria ter terminado há muitos anos – desde quando Sérgio Costa Ribeiro, nos anos 70, denunciou a cultura da reprovação nas escolas brasileiras.
As crianças precisam acompanhar seu grupo de idade, serem avaliadas de forma permanente, e apoiadas para não ficar para trás. A partir deste trabalho básico e contínuo, é preciso oferecer escolhas e alternativas, sobretudo no ensino médio, para jovens com diferentes interesses, motivações e capacidades. Tudo isto sem marginalizar ninguém.
Simon, eu considero muito importante esse seu posicionamento. As altas taxas de reprovação são um grande problema da educação no país e é importante que a sociedade entenda que reprovação não é solução.
Prezado Simon:
O fim da reprovação nos anos iniciais do ensino fundamental, conforme MEC adquire a forma de um alerta para que voltemos a manter os olhos abertos e o zelo sobre ou para com a política educacional nascente. Confesso que a medida a princípio me surpreendeu com apreensão. Na verdade, estava esperando soluções programáticas mais consensuais sobre o como melhorar o rendimento de cada educando nos anos iniciais de ensino, qual seja, mais reforço, mais ênfase na formação de pessoal habilitado para trabalhar problemas de apreensão e entendimento, aumento progressivo da carga horária com foco em maior exposição á leitura escrita, ao mundo dos números, da geometria, a partir de múltiplas trilhas. Enfim, estava esperando, que se colocasse em ação o que já se conhece sobre aprendizagem e sobre cognição.
O MEC nocauteou a repetência. Agora a escola está nua – estará sendo chamada a dar conta dos resultados substantivos ligados á aprendizagem e ao desenvolvimento cognitivo e cultural. O MEC tirou a muleta dos educadores, nem sempre mal utilizada; nós todos temos exemplos próximos de estudantes que se recuperam como bons estudantes depois de uma bomba. Agora, quem vai acompanhar, passo a passo o processo de aprendizagem da grande massa de crianças, cujos pais tem pouca sintonia com os meandros do saber?.Os ricos vão para o professor particular, para o fonoaudiólogo, para o neurologista, o psiquiatra, psicólogo etc. E outra grande maioria?
Tanto quanto eu sei, na França, a repetência ou aprovação é ou eram compactuados entre pais, professores, alunos e escola. Procurava-se criar uma rede de cobertura sobre aprendizagem do aluno, ao optar pela aprovação. Este me parece um bom caminho – cercar o processo escolar tendo como foco aprendizagem e o desenvolvimento da cultura abstrata. De resto, a repetência se tornará inútil.O, não, da repetência será transformado no, sim, do cuidado e da aprendizagem.Há quem aprenda coisas complexas em pouco tempo.Outros vão mais devagar mais aprendem com igual densidade.; isto não passa de uma obviedade, e certo, mas não faz parte do dia a dia escolar.Assim, o fim da repetência poderá vir a ser em medida benfazeja.
Atenciosamente,
Ana Maria de Rezende Pinto
Pedagoga
Mas há evidência que o liberou geral do passa-passa traga melhores resultados? Simon defende que a regra do passa-passa valha só nos 3 1os anos. Mas seus argumentos não valeriam tb para todos os demais anos, incluindo as faculdades? na prática, nos centro universitários já é pagou-passou, Simon fica feliz com isso? não acredito portanto no tom do Simon de que seria uma questão tecnico-científica a respeito de evidências de que a reprovação aumente ou não, aumente ou não o que mesmo? o desempenho daqueles q são reprovados ou o desempenho daqueles q são aprovados. há um erro metodológico crasso naqueles que advogam o fim da reprovação somente com base no argumento de que reprovar não recupera o reprovado, pois o incentivo da reprovação é para justamente aqueles que passam, que não querem ser reprovados. E acima de tudo se trata de uma questão de filosofia da educação, se afinal de contas ainda valorizamos ou não a cultura, o conhecimento socialmente acumulado, ou hoje em dia queremos um mundo tão superficial que baste a presença física sem aprender nada direito.
A evidência é que a promoção continuada por si mesmo nao melhora, mas tambem nao piora, e é um desastre para quem fica para trás. Para melhorar, são necessárias muitas coisas, inclusive disciplina, avaliação constante, programas bem definidos, motivação, métodos de ensino adequados, recuperação, etc. Sem isto, a educação continuará ruim com ou sem reprovações. Existem outras maneiras de incentivar os estudantes a que estudem e se esforcem, sem para isto ter que massacrar uma parte deles, que em grande parte não aprendem por razões que independem do que eles façam. Acho que reprovaçoes não fazem sentido em toda a educaçao básica, não só nos 3 primeiros anos, mas isto já é um bom começo. No médio, e sobretudo no ensino superior, o que deve importar é a diferenciação de programas, a abertura do leque de opções e a certificaçao dos conhecimentos e das competências, que a sociedade deve valorizar, em vez dos diplomas formais.
Curiosamente li no ‘Le Monde’ um artigo sobre o tema a semana passada. A França parece que e um campeão da reprovação, mais o artigo explicava que as pesquisas mostram que ela não leva a um melhoramento do desempenho do aluno.