O Jornal O Globo publica hoje, 15 de abril, uma matéria de Raphael Kapa com uma entrevista feita comigo sobre o tema das fundações universitárias. A matéria completa pode ser vista clicando aqui.
Fundações são parte da solução, não do problema
Na opinião do sociólogo Simon Schwartzman, especialista em ensino superior, o caminho para fazer com que as universidades usem melhor os recursos que recebem é dar mais autonomia para que utilizem este dinheiro, seja público ou privado, mas cobrando delas metas claras e transparência na prestação de contas.
— O problema é que o regime de serviço público não permite isso, e os setores mais dinâmicos das universidades, como os institutos de pesquisa e tecnologia, necessitam poder administrar seus recursos de forma mais flexível — afirma Schwartzman. Segundo ele, é nesse contexto em que surgem as fundações. — Elas são parte da solução, não do problema. O problema está na burocracia e na inércia deste atual modelo de serviço público.
Desde domingo, os jornais O GLOBO, “Zero Hora”, “Diário Catarinense”, “Gazeta do Povo” e “O Estado de S. Paulo” vêm relatando casos de irregularidades em contratos com fundações universitárias e empresas privadas, em muitos casos beneficiando indevidamente professores que deveriam trabalhar em regime de dedicação exclusiva.
Para o sociólogo, o uso das fundações pode gerar uma flexibilização que coíbe a corrupção:
—Os financiamentos obtidos das agências de financiamento de pesquisa e através de convênios com empresas públicas e privadas normalmente requerem relatórios, prestações de conta, você tem que mostrar como o dinheiro está sendo utilizado. O problema é que um grande setor da universidade não quer mudar a forma como ela funciona. Para eles, a burocracia é boa. Eles recebem recursos públicos, independentemente dos resultados que possam obter, no ensino e na pesquisa.
Schwartzman afirma também que não se pode condenar professores que, mesmo com contratos de dedicação exclusiva, buscam alternativas para melhorar seus salários e, ao mesmo tempo, trazer recursos e novas pesquisas para as universidades.
— A “dedicação exclusiva” acabou virando salário-base para a grande maioria dos professores das universidades públicas. A ideia original era que metade do tempo de dedicação seria voltada à pesquisa, mas sabemos que pesquisa de qualidade está concentrada em um número reduzido de universidades e regiões. Não há por que pensar que os professores que trazem mais dinamismo e mais recursos para as universidades não podem ganhar mais por suas iniciativas.
Schwartzman também afirma que não há como ter bons quadros sem flexibilização, porque a universidade precisa disputar talentos com o mercado.
— Muitos dos melhores médicos de São Paulo são professores universitários. É justo eles terem que deixar seus consultórios para serem professores? Se não puderem combinar o trabalho profissional com a universidade, o mais provável é que abandonem o ensino, e quem perde é a universidade.
O pesquisador afirma que, enquanto a estrutura universitária não se adequar ao dinamismo necessário para o uso eficiente e flexível dos recursos e o relacionamento mais dinâmico com a sociedade, o papel das fundações é fundamental.
Boa noite.
Não conheço as estruturas e particularidades das universidades públicas. Suponho que existam diferenças mesmo porque , neste balaio estão as federais , as estaduais e mesmo as municipais.
Mas meus contatos , minhas vivências, com umas poucas, apontam na direção da efetiva oxigenação provocada pelas fundações.
Apontam também na direção de disputas entre grupos internos que não raro , (assisti a algumas) resultam no torpedeamento de projetos e mesmo na desqualificação, via maledicência e tráfego de influência, de pessoas . Mais a fundo , a velha e nefasta burocracia se prestando à criação de obstáculos e distorções.
Ouso concluir que seria necessário que as universidades busquem têrmos e parâmetros de ajustes internos . A começar por pressupostos éticos.
Cordialmente , AJSCampello