A crise americana e a campanha presidencial |The American crisis and the presidential campaign

De viagem nos Estados Unidos, estava contando com a oportunidade de assistir daqui o primeiro debate dos candatos à presidência, logo mais à noite. Mas já é sexta feira de madrugada em Washington, e ainda não se sabe se o debate vai acontecer.  A campanha de McCain, esvaziada pela identificação com o governo falido de Bush e a falta de propostas, tem apelado para gestos espetaculares, começando pela invenção de Sarah Palin, para jogar a disputa para o campo da “guerra cultural”  entre os fundamentalistas religiosos e os liberais, e agora pelo anúncio de que o candidato suspendia a campanha, e o debate, para assumir lugar de liderança da aprovação das medidas para salvar a economia do país.  A Obama, devem ter calculado seus estrategistas, não caberia senão um papel passivo e irrelevante.

Um dia depois, o grande gesto se esvaziava – os congressistas republicanos não apoiaram o plano do governo, McCain não fez mais do que assistir a uma reunião aonde nada se resolveu,  sem exercer nenhum papel, e Obama aproveitou para dizer que, por causa da crise, era mais necessário do que nunca que a população tivesse a oportunidade de conhecer as propostas e escolher o próximo presidente do país, que vai herdar e ter que administrar toda esta confusão.  E ainda lembrou que um futuro presidente tem que ser capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo… Como são os democratas que têm a maioria no Congresso, são eles, com Obama, que vão afinal definir o rumo das negociações.

McCain vai ou não a Mississipi, para o debate?  De lá, dizem que os preparativos continuam, e Obama já confirmou a presença. Os estrategistas de McCain devem estar coçando a cabeça para sobre o que fazer, e como evitar que a cadeira de seu candidato fique vazia, sem reconhecer o fracasso da manobra.

As pesquisas eleitorais continuam dando vitória para Obama no Colégio Eleitoral, mas apertada – 273 a 265 votos, pela última estimativa que vi.  A crise econômica está claramente enfraquecendo a campanha de McCain, mas ninguém sabe o que pode ainda acontecer nesta campanha surpreendente.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

One thought on “A crise americana e a campanha presidencial |The American crisis and the presidential campaign”

  1. Olá Simon,
    De minha parte, ando completamente viciado nessa campanha. Compartilho sua avaliação quanto às razões (e quanto ao fracasso) das manobras recentes do McCain. Sem dúvida, trata-se de uma eleição apertada, mas de uns dez dias pra cá as coisas têm andado maravilhosamente bem para o Obama, felizmente.
    Tenho visto na internet (além de todo o lixo inevitável) muita informação de alta qualidade sobre a eleição. De tudo, porém, nada se compara, na minha opinião, a http://www.fivethirtyeight.com. Além de informativo, é metodologicamente fascinante, irresistível para bichos como nós. Estatísticas e mais estatísticas, reunidas num modelo ambicioso montado para fazer o “forecast” eleitoral (veja o link FAQ no site) – e agora complementado até com alguma, digamos, etnografia do chão da campanha, na série de posts “on the road”. Andou acertando na mosca alguns estados na reta final das primárias (especialmente na noite de Indiana e Carolina do Norte, que jogou a pá de cal na campanha da Hillary). Há também http://www.pollster.com, muitíssimo útil.
    O quadro que esses sites pintam, conquanto apertado, sinalizam hoje uma vantagem estrutural de Obama no Colégio Eleitoral que permitem prever que ele deve ganhar a eleição mesmo perdendo para o McCain por um ou dois pontos no voto popular. Neste momento, ele tem uma vantagem média de uns três pontos nacionalmente, que tem subido nos últimos dias.
    Em tempo: o FiveThirtyEight informa agora que Obama está ganhando com boas margens as sondagens sobre o debate de ontem – que, afinal, aconteceu…
    Ainda faltam quarenta dias, e vai ser duro de esperar. Mas seria difícil imaginar, há quinze dias, um cenário tão favorável.
    Abração!

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