Nas últimas eleições, a tentativa de levantar a bandeira da ética não ganhou muitos votos. Para muitos, e sobretudo os mais velhos, o tema da ética lembra a antiga UDN, que criticava a corrupção pela frente e conspirava com os militares por trás. Ainda hoje, quem insiste no tema da corrupção é acusado de “udenista”. Mas afinal, será que a UDN estava tão errada assim?
Nesta semana, participei de uma mesa redonda sobre este tema na UFMG, e resolvi me perguntar se não havia, afinal, algum mérito na antiga UDN e nos que, ainda hoje, acham que a ética e a moralidade da política devem ser levadas a sério. Minha resposta foi que sim, a ética e a moralidade não só são importantes, mas essenciais para a construção de uma sociedade moderna, que depende da honestidade das pessoas e da legitimidade das instituições.
Para quem se interessar, o texto preliminar da minha apresentação, “A questão da ética na política” está aqui. Aproveitei também para reler e colocar na Internet um texto clássico do antigo Cardernos de Nosso Tempo, de 1954, sobre “o Moralismo e a alienação das classes médias”, que é uma das primeiras tentativas, em nosso meio, de desqualificar a preocupação com a ética em nome da sociologia “realista” dos conflitos de classe.
O artigo de 1954 está publicado sem assinatura, como matéria editorial do Cadernos de Nosso Tempo. O artigo tem sido atribuido a Hélio Jaguaribe, que era um dos responsáveis pela revista, mas eu não saberia dizer se foi ele, efetivamente, quem escreveu.
Caro Simon,
de quem é esse artigo sobre moralismo, de 1954? Concordo com sua posição: acusar qualquer luta por ética de “udenismo” é um artifício que ora a direita, atualmente mais a esquerda (PT), utilizam para desqualificá-la. O Brasil sofre, de maneira crônica, às vezes aguda, como recentemente, com esse descaso com uma (qualquer que seja ela) concepção de certo (versus errado), a base de toda ação pública.
Renato Pedrosa