O Blog “Inside Higher Education – The World Wiew” publicou uma nota minha sobre as implicações dos resultados maisecentes do PISA para a educação superior, cujo texto em inglês está disponível aqui. Abaixo está a versão em português.
As implicações dos resultados do PISA para a Educação Superior
A OCDE acaba de publicar os resultados de sua avaliação da proficiência dos alunos na resolução de problemas aos 15 anos , em 45 países e regiões, sem maiores surpresas. Os países com melhores resultados são os que também são melhores em outras avaliações em ciência, matemática e linguagem. Os países e regiões da Ásia – Cingapura , Coréia , Hong Kong , Taipé – estão no topo , seguido por países da Europa Ocidental e América do Norte – Canadá, Finlândia , Inglaterra, França – com os países latino-americanos e alguns outros na parte inferior – Brasil , Malásia , Emirados Árabes Unidos Uruguai , Bulgária , Colômbia. Na Coréia, 28 % dos alunos mostram alto desempenho (níveis 5 e 6); nos Estados Unidos , 11,5 % ; no Brasil, apenas 1,9%. No outro outro extremo, 48% dos estudantes brasileiros mostram desempenho mínimo ou abaixo do mínimo esperado.
Quais são as implicações desses resultados para o ensino superior ? Na Ásia , onde os países estão se esforçando para levar algumas das suas universidades ao topo nos rankings internacionais de qualidade e pesquisa, a existência de um grande número de estudantes de alto desempenho mostra que eles podem fazê-lo , desde que façam os investimentos necessários e dotem sua instituições de flexibilidade no uso de recursos . Esta não tem sido, no entanto, uma prioridade nos países da América Latina, onde as questões de acesso e equidade têm tido precedência. O Uruguai (assim como o México e a Argentina, que não participam do PISA) tem uma longa tradição de acesso universal ao ensino superior, e o Brasil está se movendo nessa direção, estabelecendo cotas para estudantes menos dotados para entrar instituições públicas e fornecendo subsídios para os do setor privado.
Dada a quase inexistência de estudantes de bom desempenho aos 15 anos, é provavelmente sábia a decisão destes países de não entrar na competição internacional por excelência. A questão que fica, porém, é – que tipo de formação podem proporcionar para alunos tão mal preparados que chegam ao ensino superior? Algumas instituições tentam resolver este problema fornecendo cursos de recuperação , mas é improvável que isso seja suficiente para compensar as lacunas de linguagem e matemática acumuladas ao longo de muitos anos anteriores. A outra solução seria oferecer educação profissional mais prática e com menos pré-requisitos em termos de competências linguísticas e matemáticas. O problema aqui é que, com poucas exceções, esses países não acumularam a experiência ou tradições de trabalho que são necessários para oferecer educação profissional de qualidade. A terceira “solução”, que é o que está acontecendo na maioria dos casos, é diminuir os padrões de exigência do ensino superior convencional e colocar a maioria dos estudantes e nas “profissões sociais”, e permitindo que algumas instituições e cursos funcionem de maneira mais seletiva.
No passado, quando o número de alunos que entravam no ensino superior era pequeno, mesmo cursos de má qualidade eram atraentes para os alunos, por causa do prestígio e benefícios associados aos diplomas universitários. Agora, porém, com milhões entrando ensino superior a cada ano, há uma inflação de diplomas que corrói muito de seu valor, fazendo com que muitos abandonem os cursos superiores antes de terminar ou acabem indo para atividades profissionais de nível médio apesar de seus diplomas.
O principal desafio para esses países, certamente, é melhorar a qualidade de sua educação básica. Isso, no entanto, vai levar um longo tempo no melhor dos casos. Enquanto isto, os problemas que afetam o ensino superior precisam ser enfrentados, e não podem esperar.
Boa noite.
A questão em tela é educação. Na prática o assunto : incapacidade de resolver problemas, vem se revelando um entrave para empresas que , visando escapar de outras insuficiências , no momento de ir ao mercado de mão de obra, optaram pela chamada “universidade corporativa”. Cursos de treinamento , capacitação ou o que seja, custeados pelas empresas, Assim , podem , com alguma expectativa de obter funcionários realmente capacitados, prosseguir na implementação de seus planos a futuro.
Mas, existe um custo. Mais um componente do “custo Brasil”. Entretanto, não fica por aí. A incapacidade de resolver problemas parece ficar escondida e, surge nas avaliações periódicas das empresas.
Os departamentos ou atividades de recursos humanos das empresas , não raro, não sabem : 1 identificar a origem do obstáculo ; 2 – não sabem o que fazer para trazer remédio à questão. Algumas estão indo na direção de consultorias especializadas , outras registrando perdas e demitindo os custosos funcionários e, pasmem, contratando mão de obra “senior” – aposentados , como eu . A procura , a demanda, por exemplo , por engenheiros projetistas especializados, é , segundo a voz corrente no segmento de empresas da cadeia produtiva do óleo (aqui no Rio) é grande.
Isto seria algo que já se passa na dita “economia real”. Com a qual tenho alguma intimidade.
Ampliando o ângulo de visada, a impressão que tenho é a de que , em Educação, há uma crise em rede. São crises espalhadas ao longo de todo o processo de Educação. Uma , pontual aqui, gerando reflexos sobre outras. Por vezes em outros “nós” da rede e em outros caminhos, críticos ou não, da rede como um todo.
Cordialmente, AJSCampello
Boa tarde.
De fato , os resultados não são auspiciosos.
Destaco a importância de se dispor, eventualmente, de uma série histórica de modo a ser possível aquilatar tendências.
No Uruguai tudo parece indicar que o atual governo pretende realizar grandes investimentos em Educação.
Em nosso país, indo na direção aventada por Vsas, houve uma recente indicação de propiciar “porta de saída” para o Bolsa Família, tornando alcançável a Educação Técnica. Resta saber se antiga iniciativa neste sentido – de há alguns anos passados (700 escolas técnicas ou algo semelhante) progrediu ou ficou no nefelibatismo de algum PAC.
As poucas “ilhas de excelência” no ensino superior de que se dispõe, revelaram-se insuficientes para suprir a exigência de novos talentos. É a constatação do empresariado e mesmo dos tres níveis federativos embora estes últimos não falem muito a respeito.
Permitam que reitere posição minha, já expressa aqui ou alhures : sem pré-natal de massa, sem alimentação adequada na fase neonatal e adiante, sem exposição a fatores estressantes e traumáticos,etc, etc as habilidades cognitivas das crianças – futuros universitários, restará melhor. A questão educacional nunca foi percebida por quem lhes escreve como restrita a trechos de um processo estratégico.
Talvez muitos dos problemas do alunado se deva a dívidas geracionais. Quer este alunado esteja na Educação Pré Escolar , Fundamental, Secundária ou Superior. Dívidas políitcas. No sentido da real implementação de políticas públicas estratégicas , em gerações passadas. Passei , durante minha Educação pós universitária pela vergonha de ouvir de um professor ….”isto é dívida de faculdade”.
O que ouvirão ou terminarão por perceber os atuais alunos ? Que o PISA indica isto ou aquilo ? Perdão mas quanto do alunado universitário já ouviu falar em PISA ? Talvez estejam ouvindo melopéias laudatórias desta ou daquela corrente de pensamento ultrapassado.
Cordialmente, AJSCampello