Computadores na Educação da Cidade do Rio de Janeiro

Rafael Parente, Subsecretário da Educação do Município do Rio de Janeiro, manda a seguinte nota, a respeito de minha postagem anterior sobre “o milagre da tecnologia”:

Já há uma série de pesquisas que favorecem a utilização de novas tecnologias na sala de aula e contrariam os resultados da Colômbia: (http://www.waynecountyschools.org/150820127152538360/lib/150820127152538360/impact_on_student_achievement.pdf,

http://www2.ed.gov/teachers/how/tech/edpicks.jhtml,

http://thejournal.com/articles/2003/02/01/streaming-technology-improves-student-achievement.aspx,

http://www.ncrel.org/sdrs/areas/issues/methods/technlgy/te800.htm#researchresult).

A compra de computadores na cidade do Rio também foi contestada por algumas outras pessoas e nós precisamos explicar melhor como os computadores estão inseridos em um contexto maior. Em breve estaremos publicando um artigo tocando nestes assuntos e mostrando resultdos de pesquisas que estamos realizando com parceiros.   O importante é que todos entendam que nós não estamos chegando a decisões sem o suporte de pesquisas sérias – no campo e internacionais. Não estamos deixando os difíceis processos de organização, planejamento, estudo, trabalho e investimento de lado, pelo contrário.

Acreditamos, também com base em pesquisas, que um plano de integração das novas tecnologias com as práticas de sala de aula é necessário e deve ser baseado em três conjuntos de ações: 1) a melhoria não só da infra-estrutura, levando-se em consideração máquinas, internet, parte elétrica, segurança, etc, mas também a manutenção dessa infra-estrutura; 2) a capacitação de professores e gestores para a correta utilização das novas tecnologias; 3) a melhoria de sistemas e conteúdos que mediam a utilização dessa nova infra. Na Colômbia, como você explicou, o planejamento e a execução não preencheram essas lacunas.

Temos utilizado o conceito de “inovação de ruptura” na cidade para que o reforço escolar aconteça com o apoio das novas tecnologias — os alunos que não aprendem precisam ser considerados como um público não completamente atendido pela educação pública. Hoje, todos os laboratórios de informática da rede são utilizados praticamente só para o “reforço digital” – http://www0.rio.rj.gov.br/sme/reforcoescolar/index.html. Também criamos a Educopédia que, na nossa opinião, é uma evolução do livro didático

http://www.clipnaweb.com.br/sme/consulta/materia.aspmat=5899, www.educopedia.com.br

http://www.revistapontocom.org.br/conversa-com/sera-mesmo-o-fim-do-livro-didatico.

O professor não será substituído e não estamos deixando de investir em capacitações – uma coisa não precisa excluir a outra, como você e outros às vezes parecem crer. A Educopédia e as apostilas nada mais são do que o nosso tipo de sistema estruturado de ensino. O professor terá aulas prontas com vídeos, quizes, textos e jogos para serem projetados sobre o quadro branco, mas também contará com livros didáticos e apostilas impressas. Fizemos a avaliação da utilização da Educopédia em 30 escolas, de setembro a dezembro e o resultado foi surpreendente – posso lhe enviar em alguns dias.

Só para terminar, a ideia não é “acabar de vez com o ensino regular, com conteúdos bem definidos,  professores bem capacitados e alunos incentivados a trabalhar e partir logo para um novo ensino revolucionário e individualizado, segundo um modelo tirado das teorias de inovação das escolas de business,  que não sabemos exatamente como deve ser”, mas utilizar as novas tecnologias como ferramenta para melhorar o ensino regular, com conteúdos bem definidos, professores bem capacitados e alunos mais motivados para aprender. É isso o que já estamos conseguindo.

Abraços,

O milagre da tecnologia

No Brasil adoramos os milagres, que permitem resolver grandes problemas  sem precisar passar pelos processos dificeis de organização, planejamento, estudo, trabalho e investimento. Se nossa educação anda tão mal (apesar das grandes comemorações de pequenas melhorias que surgiram em algumas avaliações recentes), quem sabe que as novas tecnologias de informação e comunicação nos permitirão sair na frente? Com apoio do BNDES, o Governo Federal lançou no ano passado o Programa Um Computador por Aluno – PROUCA.

Várias Secretarias de Educação, entre as quais a do Rio de Janeiro, estão aderindo: no final de dezembro de 2010 foi assinado um convenio pelo qual, na cidade  do Rio,  “todos os 246 mil alunos do segundo segmento (6° ao 9° anos), de 397 escolas, terão computadores nas salas de aula.”

Ótimo, não é? Infelizmente,  quase todos os estudos sobre o uso de computadores em escolas mostram que eles não fazem diferença nos resultados da educação, e podem até ser prejudiciais.  Por exemplo, um estudo do Banco Mundial feito na Colômbia mostrou que “estudantes em escolas que receberam computadores e professores para seu uso não se deram melhor em testes do que estudantes em grupos de controle. Os pesquisadores não encontraram nenhuma diferença nos resultados dos testes quando olharam componentes específicos  em matemática e linguagem, como álgebra, geometria, gramática e uso de paráfrases em espanhol”.

Várias explicações foram apresentadas para isto, uma delas sendo que os professores não usavam muito os computadores, ou os usavam para ensinar como usar o computador, e não para ensinar os conteúdos das disciplinas.

Recentemente, circulou na Internet um artigo de  Clayton M. Christensen, especialista em temas de inovação da Harvard Business School, baseado em um livro seu de 2008,  ‘Disrupting Class’, cujo resumo e critica pode ser visto por exemplo aqui. Basicamente, o que ele diz é que os computadores realmente não servem para o ensino convencional,  mas podem ter um efeito importante se forem utilizados de forma não convencional, para que cada estudante possa encontrar seu próprio caminho.

Não por acaso, estas idéias foram retomadas e defendidas em um artigo recente de Rafael Parente, que é Subsecretário de Educação da Cidade do Rio de Janeiro (“Aula de Ruptura”). Uma das teses principais de Christensen, apresentada por Parente, é que  “a chave para a transformação da sala de aula com tecnologia é como ela será implementada. Precisamos começar a inovação através de uma ruptura, não para competir com paradigmas existentes e servir clientes atuais, mas para conquistar aqueles que não estão sendo servidos, chamados de não-consumidores. Dessa maneira, tudo o que uma nova abordagem tem de fazer é ser melhor do que a alternativa, que não existe.”

Fica a pergunta de se é isto que o Ministério da Educação e as Secretarias municipais e estaduais que estão comprando todos estes computadores pretendem fazer.  Será que a idéia é acabar de vez com o ensino regular, com conteúdos bem definidos,  professores bem capacitados e alunos incentivados a trabalhar, que ainda não conseguimos implantar, e partir logo para um novo ensino revolucionário e individualizado, segundo um modelo tirado das teorias de inovação das escolas de business,  que não sabemos exatamente como deve ser?

Transferindo as idéias de Christensen para o Brasil, quem seriam os “não consumidores”  que não estão sendo servidos pela educação?  Os que abandonaram as escolas ou os que estão matriculados hoje, mas recebendo educação de má qualidade?

O ponto principal, que nenhuma tecnologia vai resolver, é que não se faz boa educação sem bons professores, escolas organizadas e estudantes estimulados e incentivados a trabalhar. Com estes ingredientes, então as novas tecnologias podem ajudar muito. Sem eles, elas servem muito pouco. Seria importante ter clareza sobre estas coisas antes de embarcarmos tão confiantes nas maravilhas das novas tecnologias (que, aliás, com os tablets, tornarão todos estes milhares de computadores obsoletos em  muito pouco tempo).

Os desafios do ensino médio

A revista Ensino Superior UNICAMP, em seu número 2, publica uma longa entrevista minha sobre o ensino médio brasileiro e sua relação com o ensino superior. A pergunta inicial é: qual  o desafio que o ensino médio coloca para o Brasil atualmente?

Temos alguns problemas básicos no ensino médio. Uma peculiaridade do Brasil, na comparação com outros países da América Latina, Europa, Estados Unidos, é o fato de o nosso sistema de ensino médio ser praticamente um só. Há um pequeno setor de ensino profissional ou técnico, muito pequeno; isso não dá alternativas para os estudantes que queiram seguir diferentes caminhos. A necessidade de um sistema diversificado tem a ver com os interesses diversificados das pessoas; e também com o fato de que a educação básica é muito desigual, e que nem todas as pessoas tem condições de fazer o mesmo tipo de curso médio. Pelo fato de o modelo ser único — o modelo tradicional, acadêmico, ele mesmo com uma série de problemas específicos –, parte das pessoas não conseguem acompanhar o programa e não chegam ao final; ou então, chegam ao final com tantas dificuldades que não têm condições de continuar estudando e de adquirir uma atividade profissional adequada. Temos assim um problema de diversificação; e o sistema predominante, que é quase o único que existe, têm vícios e defeitos, decorrentes de seu conteúdo muito formal e do modelo muito antiquado de ensino, enciclopedista. Há uma carga muito grande de cursos, em que se pede ao aluno decorar e repetir certos conteúdos.  O sistema não é formativo e está muito condicionado pela competição para a universidade – o que determina o conteúdo dos cursos. Os cursos considerados melhores no ensino médio são aqueles que preparam melhor para os vestibulares mais competitivos. Essa formação não é muito adequada.

O texto completo da entrevista, em sua versão original, está disponível aqui.

ENEM – Mea Culpa

Eu disse em uma nota anterior que o ENEM atual havia trocado a ênfase em competências, da versão anterior, por uma ênfase em conteúdos, buscando com isto satisfazer as exigências das universidades e influenciar o que é ensinado nas escolas do ensino médio. Reinaldo Azevedo, o conhecido jornalista conservador de Veja, publicou uma análise detalhada da prova de português (que agora se chama “Linguagens e Códigos e Suas Tecnologias” ) que me faz voltar atrás. Eu não sei o que é isto, mas prova de conhecimento ou de competência em uso da língua é que não é.  Vejam abaixo o exempo de uma das questões da prova, na análise de Reinaldo.

A questão 98 do ENEM, conforme Reinaldo Azevedo:

A de nº 98 traz um texto de horóscopo — as características do signo de Câncer e como devem se comportar as pessoas desse signo na família, no trabalho, nos cuidados com a saúde… E qual a curiosidade do examinador? Isto:

“O reconhecimento dos diferentes gêneros textuais, seu comunicativo e seu contexto de uso, sua função social específica, seu objetivo comunicativo e seu formato mais comum relacionam-se aos conhecimentos construídos socioculturalmente. A análise dos elementos constitutivos desse texto demonstra que sua função é A – vender um produto anunciado. B – informar sobre astronomia. C – ensinar os cuidados com a saúde. D – expor a opinião de leitores em um jornal. E – aconselhar sobre amor, família, saúde, trabalho”.

Eu não estou brincando, não. Essa questão é exemplar de uma prática comum na prova. O enunciado é pomposo, quase incompreensível, cheio de macumbarias conceituais para indagar, no fim das contas, se está claro que um texto de horóscopo dá conselhos…

Com a palavra a Academia Brasileira de Letras.

ENEM – o que realmente importa

A nova confusão com o ENEM mostrou mais uma vez a grande capacidade dos brasileiros de concentrar no que menos importa, deixando de ver ou considerar as coisas de fundo.  Está bem, o INEP tem sido incapaz de administrar o sistema de provas que montou. São problemas logísticos, que cedo ou tarde acabarão se ajustando.O que interessa saber, no entanto, é: precisamos deste ENEM, com este formato?  Que vantagens e problemas ele traz? Não existem outras maneiras melhores de fazer isto?

O principal objetivo do ENEM, desde suas primeiras versões, foi estabelecer um padrão de referência para as pessoas que se formam no ensino médio. Como as escolas são muito diferentes, e as notas dadas pelos professores de cada curso são subjetivas, ter um padrão nacional permite avaliar o que o aluno realmente aprendeu, e, de tabela, dizer algo sobre suas escolas, quando temos um número significativo de alunos da mesma escola participando. São informações que também podem ser usadas por universidades em seus processos de seleção.

Este tipo de avaliação final do ensino médio existe em muitos países, mas de forma muito diferente da nossa. Na Europa, a tradição é fazer com que o aluno passe por uma avaliação feita geralmente nas próprias escolas sob supervisão externa – é o Abitur alemão, o GCSE inglês (General Certificate of Secondary Education), ou o Bachaleaurat francês. No caso inglês, o aluno tem que ser avaliado em conteúdos centrais (core subjects), inglês, matemática e uma entre diversas opções em ciências) e diversas outras opções em línguas, tecnologia, humanidades, ciências sociais e artes. O importante é o que o aluno pode escolher os exames que quer fazer – existem cerca de 40 opções – e as diversas universidades e cursos usam os diferentes resultados conforme seus critérios próprios. Na Universidade de Warwick, por exemplo, diz o Site, “all applicants must possess a minimum level of competence in the English Language and in Mathematics/Science. A pass at Grade C or above in GCSE English Language and in Mathematics or a Science, or an equivalent qualification, satisfies this University requirement. For many courses, requirements are above this University minimum, so you should check the relevant course-specific entry requirements”. A outra característica importante do sistema inglês é que os exames são feitos por cinco “examination boards” independentes, organizações públicas ou privadas de competência técnica reconhecida.  Se trata, portanto, de um sistema aberto, com muitas opções, que não coloca os alunos na camisa de força de um exame único como o ENEM, e que as universidades usam conforme achem mais conveniente.

O melhor exemplo de um outro modelo é o Scholastic Aptidude Test – SAT – utilizado nos Estados Unidos. Uma diferença importante com o modelo europeu é que o SAT não busca medir conhecimentos, e sim competências, em pensamento crítico, matemática e escrita. O SAT é desenvolvido por uma fundação não lucrativa de direito privado, o College Board, e administrado por outra instituição, o Educational Testing Service. Enquanto que o sistema inglês atribui conceitos de A a D para aas provas, os resultados do SAT são estatisticamente padronizados, e comparáveis ano a ano.  Quase todas as universidades americanas usam o SAT como um dos elementos para a seleção de seus alunos.

Estes exemplos mostram que as opções, para este tipo de prova, são ou fazer uma prova baseada em conteúdos, mas de forma diferenciada e descentralizado, e dando opções para os estudantes, como na Europa, ou fazer uma prova de competências gerais, mais unificada (mas sempre diferenciando pelo menos entre as áreas de linguagem e matemática). No caso do SAT, o exame é dado várias vezes por ano em muitos locais diferentes, em um sistema computadorizado no qual as questões vão aparecendo para o estudante conforme ele vai avançando.

O ENEM atual é uma combinação perversa dos dois modelos: por um lado, como na Europa, ele é fortemente baseado em conteúdos, aparentemente para atender às demandas das universidades, para que elas possam, no limite, dispensar seus próprios vestibulares; mas ele não dá opções, e além disto é aplicado em um momento único, quando o exemplo do SAT mostra que existem alternativas para isto

O resultado, além do pesadelo burocrático e logístico das provas, é que ele vai contra a necessidade de criar mais alternativas de estudo no ensino médio, força os alunos a uma maratona de dois dias de prova cujo resultado pode decidir seu futuro, e muitas das principais universidades do país relutam em usar seus resultados como critério de admissão para seus cursos.O ENEM atual teria uma outra função, que seria permitir que os alunos pudessem se candidatar, de uma só vez, a diferentes universidades em todo o país. Mas, na ausência de um sistema adequado de residência universitária e bolsas de manutenção para os estudantes, é muito improvável esta mobilidade esteja sendo criada, e instituições de excelência, como a UNICAMP e o ITA, já fazem tradicionalmente vestibulares de alcance nacional.

O que fazer?  Algumas sugestões:  1) tirar a implementação do ENEM do INEP e do sistema de licitações anuais, e colocar em uma ou mais instituições especializadas, a ser constituidas;  2) voltar ao formato de uma prova única geral de competências centrais aplicada de forma descentralizada e por computadores; 3) abrir o leque de avaliações por áreas de conhecimento, conforme os interesses dos estudantes e das universidades que queiram fazer uso destas informações. 4) criar um sistema adequado de financiamento do sistema, com contribuições das universidades que usam os resultados, dos alunos que fazem as provas (com as devidas isenções) e do governo 5) dar transparência ao sistema, publicando os documentos técnicos e as matrizes de referência para as diferentes áreas em avaliação.

Estas podem não ser as melhores sugestões, mas é isto que deveríamos estar discutindo, e não os erros logísticos que têm surgido, embora eles sejam, pelo menos em parte, conseqüência do sistema mastodôndico de avaliação que se decidiu adotar,

Coesão social e educação

Como deve ser a educação moral e cívica nas escolas? No passado, havia a idéia de que a escola devia ensinar os valores da pátria, da família, das glorias do passado, dos heróis, etc.  Hoje, os grandes temas nacionais já quase não aparecem nos curriculos, sendo substituidos por temas de identidade, crítica social, a filosofia e a sociologia, cujos conteúdos variam muito conforme as preferencias e a competencia dos professores. Será que existe ainda um lugar para uma educacão de valores que contribua, como se pensava no passado, para fortalecer a coesão social?  Ou este é um assunto conservador e ultrapassado, no mundo globalizado de hoje?

Este é o tema de um texto entitulado “Educación y cohesión social en América Latina”  que preparei para um seminário sobre “Educación para el Desarrollo en América Latina””, organizado pela  “Agenda del Desarrollo Iberoamericana”, Barcelona, cuja versão preliminar pode ser baixada aqui. Comentários são benvindos!

Maria do Pilar Lacerda: Educação inclusiva

Recebi de Maria do Pilar Lacerda, Secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, a nota abaixo, esclarecendo a posição do governo em relacão à educação de estudantes especiais:

A Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC, 2008) cumpre o dispositivo legal que assegura às pessoas com deficiência, o direito de acesso a um sistema educacional inclusivo em todos os níveis. Esse direito foi incorporado à Constituição Federal por meio do Decreto n.6949/2009 que promulgou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU/2006). Nesse sentido, o MEC implementa ações para a oferta do atendimento educacional especializado complementar ao ensino regular na rede pública, concretizando o compromisso assumido pelo o Brasil de adotar medidas de apoio necessárias para a garantia da igualdade de condições de acesso e permanência na escola. Portanto, esta legislação não é do MEC, é do Brasil, devendo as políticas instituídas pelos governos, bem como as diretrizes e normas educacionais, adequarem-se ao disposto Constitucional, no que tange aos seguintes aspectos: organização de um sistema educacional que não segregue com base na deficiência; financiamento público da educação pautado no desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas e na disponibilização de recursos de acessibilidade. Nesse contexto, as instituições especializadas podem e devem atuar nas redes de apoio e colaboração à inclusão escolar, conforme prevê o Decreto n.6.571/2008, que estabelece no âmbito do FUNDEB, o duplo financiamento da matrícula de alunos com deficiência, uma na classe comum da rede pública e outra no atendimento educacional especializado, sendo que esse atendimento pode ser realizado em instituições privadas sem fins lucrativos. Os recursos financeiros destinados às instituições filantrópicas foram mantidos por meio dos programas de alimentação escolar, livros didáticos e dinheiro direto na escola; além do repasse do FUNDEB a partir de 2007, o que não era permitido pelo FUNDEF, instituído em 1996. Com relação ao emprego da terminologia “pessoas com deficiência” pelo MEC, está de acordo com Convenção da ONU. No entanto, cabe esclarecer que a terminologia “surdo mudo”, é totalmente equivocada, pois mostra falta de compreensão sobre a possibilidade de oralização das pessoas com surdez. Na área da educação das pessoas surdas, as políticas educacionais garantem uma educação bilíngüe Libras/Língua Portuguesa, que promove a convivência escolar entre pessoas surdas e ouvintes e não reforça sua segregação com base na condição sensorial.

Mariza Abreu: A questão da educação especial e as APAEs

Escreve Mariza Abreu, ex-Secretária de Educação do Rio Grande do Sul, sobre a crítica de José Serra à política do governo federal em relação às APAEs:

No caso da educação especial, o que o MEC tem feito é uma política de inclusão total – todos os alunos com deficiência (e também os superdotados) têm que ser matriculados em escolas regulares, com salas de recursos ou com atendimento educacional esepecializado – o tal AEE – na mesma escola ou outra instituição no turno inverso ao ensino regular. Com isso, a política do MEC desautoriza, não reconhece as APAEs, porque não aceita classes e escolas especiais, embora essas sejam admitidas pela LDB em caráter excepional, pois a Lei dispõe sobre atendimento preferencial na rede regular de ensino. No caso dos surdo-mudos, eles preferem conviver entre si e devem ser respeitados. Da mesma forma, a expressão politicamente correta da LDB de “alunos portadores de necessidades especiais” não é a que esse grupo de indivíduos quer que seja utilizada para denominá-los. Eles escolheram a denominação de “pessoas portadoras de deficiência” – as PPDs. A linguagem é um problema, pois também não são os “excepcionais” de antigamente. Mas, enfim, a política do MEC levou a uma situação de confronto com as APAEs, pois retira delas o apoio do poder público – recursos financeiros e cedência de pessoal, sendo inclusive o pagamento desses professores admitido nos recursos do Fundeb (antes do Fundef).

PS – No RS, mantém-se a política de apoio às APAEs, contra a política do MEC. O governo do Estado acaba de renovar os convênios de cedência de professores para as APAEs. Segundo dados do site do governo, são 283 professores cedidos para 94 APAEs que atendem 2.260 alunos.

Os resultados do IDEB 2009

O INEP divulgou ontem os resultados globais do Indice de Desenvolvimento da Educação Básica, e os resultados mostram melhorias, sobretudo para a 4a série do ensino fundamental (5o. ano).  Em português, a nota média passou de 175.8 para 184.3 pontos  (o mínimo adequado  seria 200) e, na 8a série (9o. ano), de 234.7 para 244.0 (o mínimo adequado seria 275). Ao final do ensino médio, a evolução foi de 251. 4 para 268.8, ainda longe do mínimo aceitável de 300.  Os resultados em matemática só mostram mudança na 4a serie – de 193.5 para 204.3  (a meta é 250). Na 8a série passa de 247.4 para 248.7, para uma meta de 300, e de 272.9 para 274.7 no final do ensino médio, quando a meta seria de 350.

Estas metas mínimas por série são as utilizadas pelo movimento Todos Pela Educação, e, quando as tomamos como referência, vemos que os estudantes da última série do ensino médio ainda estão abaixo do esperado para a 8a série da educação fundamental. A distância entre o desejável e o real vai aumentando a cada nível, e  bem pior em matemática do que em português, o que mostra que ainda estamos longe de uma educação pública razoável.

Quem produz os dados do IDEB é o governo federal, mas os responsáveis pelas redes de educação básica são os governos estaduais e municipais. Será interessante ver em que estados e municípios estes avanços observados pelo INEP se deram, e quem não está se movendo.

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