Comovente, para dizer o mínimo, o discurso de Barak Obama confirmando sua vitória na disputa pela indicação do Partido Democrata. Disse tudo que tinha que dizer, e tudo muito bem dito. A necessidade de que os Estados Unidos voltem a ser moralmente respeitados no mundo; a necessidade de sair do Iraq, embora reconheça as dificuldades; a prioridade que deve ser dada à pesquisa e aos investimentos em energias não poluentes; a necessidade de proporcionar seguro médico a toda a população, e de garantir “no money left behind” para o programa “no child left behind” de educação. Criticou os que usam a religião e o nacionalismo para pressionar e assustar os eleitores e elogiou seu adversário republicano como pessoa, mas não perdoou sua identificação com o governo Bush, sobretudo nas politicas de redução de impostos para os ricos e de poucos investimentos na área social.
Obama se colocou como herdeiro da grande tradição de Roosevelt e dos Kennedy, sem esquecer Bill Clinton, e prestou uma belíssima homenagem a Hillary, que só não vai aceitar a mão estendida se for demasiado orgulhosa. Lembrou que Hillary foi a mulher que mais alto chegou na vida pública americana, mas não falou de si mesmo, como o primeiro negro a chegar a uma posição ainda mais alta. De suas raízes negras, prestou uma homenagem à sua avó africana, e foi o suficiente – ele não pretende ser o candidato de um grupo, ou de uma raça, mas de todo o país, e de outros paises também. Eu, se pudesse, votava nele…
Existe uma grande diferença. Obama se formou em Direito em Harvard e poderia ter ido para qualquer uma das melhores firmas de advocacia dos Estados Unidos. Mas optou por não, optou por fazer trabalho em comunidades pobres em Chicago. Além disto durante sua vida toda como ativista político, e depois Senador, defendeu as causas dos pobres e sem voz.
Então o discurso dele nao é uma promessa do que vai fazer quando for presidente, mas uma continuidade de suas atividades políticas. Inclusive sua campanha foi primorosa, sem ataques pessoais a Hillary e recebendo doações da população em vez de corporações (diferente dos outros candidatos).
Os EEUU também têm políticos corruptos, mas não são a maioria e quando são pegos não tem deixa para lá. Estamos acostumados com os políticos brasileiros e não confiamos neles. Mas em alguns outros países a realidade não é bem esta.
A vitória de Obama é emocionante e é um marco na política americana. Não só porque reflete um avanço enorme nas últimas décadas nas questões raciais e de “civil rights” (quem diria em 1960 que um negro seria candidato a presidência da república), mas também porque ele não faz parte de nenhum clã político como os Bushs, os Clintons, os Kennedys. Se ele vencer as eleições (e não for assassinado como John e Bob Kennedy) as mudanças sociais, políticas, de meio-ambiente, etc, serão muito profundas.
Então compartilho com a comoção do Simon. Sim, existem políticos “diferentes”. Agora que é o candidato democrata os debates ficarão mais interessantes e as diferenças entre ele e o candidato republicano vão ficar bem claras.
Se fosse para escolher entre Obama e McCain, eu certamente votaria em Obama. O problema é que ele é democrata, o que o torna automaticamente um defensor da intervenção do Estado na economia. O ideal seria que os EUA tivessem um partido que fosse uma mescla de democratas e republicanos: liberais na economia, na pesquisa com células-tronco, na guerra, na paz, etc. Se isso é impossível, pelo menos a esquerda deles é mais centrada do que a esquerda latino-americana.
Sinto-me solidário com as suas palavras. Foi muito oportuno reconhecer em nosso meio a qualidade de liderança expressa nas palavras do candidato à presidências dos Estados Unidos. Oxalá que um candidato com qualidades semelhantes volte a suirgir também em nosso país.
Sinceramente – e não estou sendo irônico (até pelo respeito que lhe tenho, Prof. Simon), fico admirado quando alguém, com a sua experiência de vida, vem a público expressar que Obama “Disse tudo que tinha que dizer, e tudo muito bem dito.”. O problema do mundo contemporâneo é isso: paradigma teórico todo político tem; o problema é que, quando assumem o poder, ‘tudo fica como antes, no quartel de abrantes’. O presidente dessa nossa terra tupiniquim também disse tanta coisa correta, se mostrando como alternativa, solicitando que FHC – e tudo e todos que o rodeasse – se pusesse a correr. A oposição brasileira de outrora (outro dia mesmo) achava um despautério a cobrança da CPMF, a situação da saúde, da Previdência Social, do corporativismo no Congresso… quase babavam contra a edição de medidas provisórias e… por aí vai. Enfim, professor, tenho visto que o belíssimo discurso do lado de cá da América até faz a gente votar em “X” ou “Y”. E daí? Depois de 4 décadas de vida, algumas delas quebrando a cara: (a) porque apoeiei o prefeito que parecia ser aquele que resolveria os problemas do meu município; (b) porque escolhi um deputado que tinha como bandeira a Educação (um sujeito de bom discurso)… e hoje é, lá no Congresso, mais um voto “SIM” ao governo – em tudo – misturado numa boa com quem era ‘adversário’, mas é, hoje, ba “base política” governamental; (c)porque escolhi o vereador que também tinha uma cartilha de coisas em que eu também acreditava e, hoje, vive numa coligação que, há algum tempo, seria impensável: PT/PSDB.
Enfim, Prof. Simon, poder-se-ia dizer que pareço um azarado em escolher meus candidatos. Tudo bem. Pode ser que isso seja uma verdade. Mas, ainda assim, hoje em dia eu só acredito naquilo que eu posso fazer pelo meu vizinho, no dia-a-dia, na honestidade que eu posso praticar, no exemplo que posso ser para meus alunos, enfim… não me engana mais essa estória de que é possível um mundo melhor, um governo federal melhor, uma prefeitura melhor etc. O mundo sempre será dos espertos e são espertos que tomam conta da máquina pública etc.
Isso posto, reitero que me admira muito ver alguém tão animado que até tem esperança na política internacional, no caso presente, na dos EUA, a ponto de declarar voto a Barak.
Não é ironia, repito. É que eu não tenho dado conta de acreditar nem no ‘filho da mãe’ que morava na minha rua e que era o político perfeito, a quem um dia – como o senhor o faz neste Blog – declarei meu voto.
Eu quisera ter o mesmo otimismo.
[Para tentar convencê-lo de que isso aqui é um desabafo, para troca de idéias, gostaria de lembra-lhe, Prof. Simon, que o senhor para mim é uma referência intelectual. Estou escrevendo meu trabalho de História da Matemática no Brasil e seu livro “Formação da Comunidade Cientifica no Brasil” de 1979 – e outros escritos seus sobre política científica e Universidade no País – têm sido luzes para mim.
Portanto, quero sua LUZ, de novo, para me animar e ter coragem, de novo, de ficar tão entusiasmado com o político que até declare voto a ele.
José do Carmo Toledo.