Uma nova edição de Bases do Autoritarismo Brasileiro deve ser publicada pela Editora da Unive rsidade de Campinas em 2014/2015. O livro foi publicado anteriormente pela Publit Soluções Editorial em formato eletrônico, que não está mais disponível.
O livro mantém o texto integral da edição de 1988, com uma pequena nova apresentação, aonde observo que, quase vinte anos percorridos, uma das principais proposições do livro pareceria ter se cumprido. O que procurei mostrar em 1973 era como a dinâmica da vida política brasileira tinha tido sempre, uma característica central, a relativa marginalização do centro econômico e mais organizado da “sociedade civil” no país, localizado predominantemente em São Paulo, e o núcleo do poder central, muito mais fixado no eixo Rio de Janeiro – Brasília, em aliança com as oligarquias políticas tradicionais dos estados mais pobres. Mais do que diferenças geográficas, que têm sua importância, o que me importava eram as diferentes formas de organização da vida econômica, social e política que coexistiam e disputavam espaço no país.
No prefácio de 1988 eu dizia que “foi de São Paulo que surgiram as pressões sociais mais fortes contra os poderes concentrados no Governo federal, tanto por parte de grupos empresariais quanto pelo movimento sindical organizado; é em São Paulo, em última análise, que se joga a possibilidade de constituição de um sistema político mais aberto e estável, que possa dar ao processo de abertura uma base mais permanente”.
A partir de 1995, com os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva e as candidaturas presidenciais de José Serra e Geraldo Alckmin, o centro de gravidade da política brasileira se transfere para São Paulo. Nas eleições de 1994 e 1998, a oposição entre PSDB e PT se aproximou bastante do que poderíamos descrever como a disputa entre dois partidos políticos modernos, um com mais apoio nas classes médias e no empresariado, outro com mais apoio nos sindicatos e nos movimentos sociais independentes. Desde então, no entanto, os partidos políticos perderam substância, o clientelismo se ampliou, o sindicalismo e os movimentos socais independentes desapareceram ou foram cooptados, e boa parte das elites patrimonialistas mantiveram seu poder de sempre, agora como meras cleptocracias. O período “moderno” da política brasileira teve fôlego curto, e a política antiga está demonstrando ter uma enorme capacidade de sobrevivência e metamorfose. Fica para os eleitores a pergunta de por quê isto é assim, e o que podemos esperar para o futuro.
Eu já foi mais otimista do que hoje, achava que o “Brasil Novo” iria aos poucos ganhando mais espaço em relação ao Brasil antigo. Em parte, se olhamos para a economia e a sociedade, isto está ocorrendo; mas, se olhamos para a política e as instituições que ela alimenta, o que vemos é a enorme capacidade de resistência e renovação das políticas mais tradicionais, nas alianças entre o populismo, as antigas oligarquias e a corrupção. A dúvida é se o crescimento e a modernização da sociedade vão continuar financiando e sustentando indefinidamente este sistema político degradado, ou se vai chegar o momento em que a economia e a sociedade vão sucumbir a este peso morto. Sinceramente, não sei.
Caro Professor
Caio Prado dizia no iníco do seu livro Evolução Política no Brasil que era necessário encontrar o “sentido” da história. Aquela linha que abandonando os incidentes secundários predominava ao longo da história brasileira. O senhor afirma que o moderno teve fôlego curto no Brasil. Não lhe fica a sensação de que iste sempre acontece? Vejamos na educação:Escola Nova, constituição de 46, o projeto original da 1ª LDB, em contraposição respectivamente ao golpe de 1930, à ditadura militar em relação à 46, o projeto final com as emendas votadas 12(?) anos depois de enviado ao Congresso em relação â 1ª LDB.Enfim, quando pensamos que as forças oligárquicas estão vencidas elas se renovam e entram em cena. Estou errada professor?
Professor Schwartzman,
Em boa hora sai ao ar uma nova edição do seu clássico “Bases do autoritarismo brasileiro”. Num momento em que, como V. Sa. diz, o patrimonialismo, na sua versão mais primitiva, a cleptocracia, parece ter retomado fólego novo e tudo açambarca, indo por água abaixo, no Brasil, os anseios por uma verdadeira democracia moderna. Só nos resta estudar com maior profundidade o fenômeno, como o Senhor faz com a sua característica competência, a fim de leixarmos, às gerações vindouras, elementos de análise crítica que lhes ajudem a encontrar o caminho das pedras. Parabéns pela nova edição do seu livro e os meus agradecimentos por essa iniciativa.
Cordialmente,
Olá, Simon. Voto desde 1993, quando do Plebiscito, e me tornei mesária voluntariamente em 2005, no Referendo. Às vezes me pergunto se a democracia compensa, e chego à conclusão de que ela dá mais trabalho e é ao mesmo tempo mais fascinante.
Algo me diz que não veremos jamais essa notícia na TV Lula…