O economista Jorge Jatobá explica o que está acontecendo com emprego no Brasil:
Emprego sem crescimento?
Jorge Jatobá
A maioria dos economistas e das agências nacionais e internacionais que acompanham o desempenho da economia brasileira afirmam a coexistência incomum entre baixo crescimento e pouco desemprego. Um fenômeno curioso já que um fraco nível de atividade da economia é determinante de um baixo dinamismo no mercado de trabalho. Esse artigo ousa interpretar e esclarecer esse aparente paradoxo.
Em primeiro lugar, constata-se nas estatísticas do CAGED/MTE uma clara desaceleração na geração de empregos na economia brasileira. A evolução da geração de empregos formais acumulada em 12 meses caiu 42,3% entre janeiro de 2013 (1.267,6 mil) e agosto de 2014 (730,2 mil). Em outubro passado o saldo foi negativo em 30,3 mil empregos, o pior resultado desde 2009. Portanto, há dados inequívocos de uma forte desaceleração e, mais recentemente, de perdas liquidas na geração de empregos na economia nacional.
A perda de empregos é significativa na indústria brasileira que passa por um período crítico de perda de competitividade. Na indústria de transformação, segundo o IBGE, o nível de emprego caiu 5,4% quando se compara agosto de 2014 com agosto de 2013. Nos 12 meses terminados em agosto, o nível de emprego caiu 1,8% e no acumulado de 2014 (Jan-Ago) reduziu-se em 3,1%. Essa queda no nível de emprego da indústria não foi maior porque em muitos setores manufatureiros, especialmente no automotivo, as empresas cortaram horas-extras, usaram o banco de horas, deram férias coletivas e instituíram o lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho com remuneração parcial). As empresas industriais não demitiram massivamente ainda porque o custo de demissão e de recontratação são elevados, especialmente se a decisão de demitir não for calcada em uma forte percepção de que o mercado não se recuperará no curto prazo. A decisão final depende do rumo que o governo reeleito dará à política econômica. Se a percepção dos agentes econômicos for a de que não haverá mudanças significativas na condução da política macroeconômica é possível que demissões massivas sejam concretizadas.
Cabe perguntar se a baixa geração de empregos no conjunto da economia e a perda de postos de trabalho na indústria estão afetando as taxas de desemprego. A taxa de desocupação segundo a PNAD contínua (IBGE) elevou-se de 6,2% para 7,1% entre o terceiro trimestre de 2013 e o primeiro trimestre de 2014. Essas taxas se aplicam para o conjunto do país e não apenas para as seis áreas metropolitanas pesquisadas pela PME/IBGE onde a taxa de desemprego, em setembro de 2014, foi de apenas 4,9%, número frequentemente citado pelo Governo Dilma para atestar que o mercado de trabalho não está sendo afetado pelo baixo crescimento.
As taxas de desemprego estão também historicamente menores por três razões que a afetam pelo lado da oferta. A primeira é porque homens e mulheres há, pelo menos duas décadas, resolveram ter menos filhos. Isso reduziu o crescimento populacional e impôs um menor ritmo de expansão da força de trabalho. Ou seja, os empregos que estão sendo gerados vão encontrar menos pessoas disponíveis para ocupá-los. Em segundo lugar, os jovens estão adiando a entrada no mercado de trabalho para estudarem mais, fato a ser comemorado. Em terceiro, há o fenômeno dos que não trabalham nem estudam, cujas causas ainda estão sendo estudadas mas que tem a ver com a atitude das famílias com relação a permanência mais prolongada dos filhos em casa. Essas duas últimas, retiram da força de trabalho um contingente significativo de jovens enquanto a primeira indica, pela primeira vez na história recente do mercado de trabalho brasileiro, uma escassez geral de mão de obra, não apenas aquela relativa ao trabalho mais qualificado.
Portanto, o paradoxo está explicado pela inércia entre o desempenho da economia e do mercado de trabalho, pela transição demográfica e pelas expectativas com relação a definição da política econômica. Se a crise não adentrou-se no mercado de trabalho, ela está batendo à porta com força e colocando o pé na soleira
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Jorge Jatobá é Doutor em Economia e Sócio-Diretor da Consultoria Econômica e Planejamento-CEPLAN. Versão ligeiramente diferente deste artigo foi publicada na Edição Nº 104 da Revista Algomais.
Boa noite.
Pouco ou nada entendo de emprego.
O artigo termina com um aviso bastante claro. No sentido de que , sem mudanças que estimulem o empresariado poderá haver corte de vagas.
Vejo isto pelo lado de minhas atividades recentes. Chamado para trabalhos de consultoria e verificando que as empresas estão interessadas em algo que já foi chamado de planejamento de crise.
Por um lado estão temendo aprofundar-se a queda da demanda sem ter muito espaço para reduzir ainda mais suas atividades. Pelo outro , ou estão “sentadas” em cima de caixa ou devendo , inclusive em dólares.
Se uma imagem pode traduzir o que vejo no meu dia-a-dia, estão “puxando o freio de mão ” depois de desacelerar e mesmo freiar.
Fica claro que haveria uma pré-crise. Instalando-se uma , o emprego vai sofrer.
Cordialmente , AJSCampello