Laura Randall e Maria Lígia Oliveira Barbosa acabam de publicar os resultados de uma importante pesquisa sobre “O impacto da cor sobre o desempenho dos estudantes segundo as características da família e o contexto da escola”, realizada em Belo Horizonte, que está disponível no site do Brazilink
Este é o resumo do estudo (escrito pelas autoras, mas editado por mim):
O artigo focaliza o impacto das condições sócio-econômicas, da cor do estudante e de variáveis escolares sobre as notas em linguagem e matemática dos estudantes de 4ª série em escolas municipais e estaduais de Belo Horizonte, Minas Gerais. Examinam-se os fatores que poderiam explicar os escores 8% mais elevados entre os brancos em relação àquele dos não-brancos, analisando o impacto da condição sócio-econômica da família, da escolaridade média dos membros da família, inclusive os pais, as condições socioeconomicas da família, da média dos estudantes na sala de aula, e outros fatores.
Observa-se que a cor do estudante é mais importante que o nível sócio-econômico para o desempenho em matemática para os indivíduos, mas a condição sócio-econômica média na sala de aula tem poder explicativo maior. O impacto da cor no desempenho do estudante em matemática decresce quando as características da família, percepção do diretor sobre os obstáculos ao aprendizado, características do diretor e estilo de gestão são incluídos. Mas aumenta quando variáveis relativas à participação da comunidade no planejamento escolar, às características da professora e da diretora, ao estilo docente e às características físicas da escola são incluídas. Padrão similar foi encontrado para notas em linguagem, com exceção das variáveis familiares e uso de estilo docente construtivista, que diminuem o impacto da cor no desempenho do estudante e aumenta esse desempenho nas classes que se situam no terço inferior do desempenho médio em linguagem.
Os achados foram consistentes com a hipótese inicial de que o impacto da cor difere segundo o aspecto da escolarização que se considera e de acordo com as categorias, individuais ou agrupadas, que se analisa. Numa interpretação panorâmica, podemos dizer que as condições socioeconômicas foram mais relevantes que a cor no caso os dados sobre educação em Belo Horizonte, tanto para as características individuais quanto para a média dessas características na sala de aula. O resultado sugere que políticas públicas deveriam focalizar nas condições sócio-econômicas – no caso, habitação, que é o maior componente do indicador de condição social no nosso survey – tanto quanto na dimensão educacional: o ponto a destacar, em relação a essas políticas públicas, seria a identificação de elementos do funcionamento das escolas e dos métodos didáticos que podem reduzir ou aumentar o impacto da cor sobre o desempenho dos estudantes.
Como professora do ensino médio noturno na periferia de Brasília, verifico que o comportamento dos docentes e da equipe dirigente do colégio muito contribui para o desempenho dos estudantes, apesar de os meninos e meninas estarem próximos à linha da pobreza. Nossas posturas, gestos, palavras e atitudes em geral influenciam, sim, a motivação e o envolvimento dos estudantes com as disciplinas – a meu ver, sentimentos de rejeição e de incompreensão contribuem para a alta taxa de evasão dos alunos; ao contrário, se eles se sentem acolhidos, respeitados e foco de nosso interesse profissional, levam adiante os estudos, e com alegria.
Quando digo que começou no Ceará (sou cearense) é pelo fato de ter sido nas pesquisas SPAECE onde constatei pela primeira vez oficialmente escrito afirmativa do fato do desempenho escolar ser função unicamente e exclusivamente da cor (http://www.cultura.ufpa.br/matematica/?pagina=jbn, Dossê do (Des)Ensino de matemática – Ceará ).
Não conheço os estudo americanos e nem os testes de matemática que foram lá aplicados para omitir qualquer opinião ou comentário válido.
O o que o sistemas de vestibulares diziam antes pelo seu processo de avalição era que tais cotistas eram inqualificáveis para ingressar no ensino superior, donde o esperado com tais cotas era um vendaval de reprovações desmoralizadora. O que, acredito eu, o Leandro Tessler teria o máximo prazer, de fato é função primordial deste, denunciado.
Que não há dados indicando o rendimentos dos cotista é falso. Primeiro pelo que que já disse: se fossem pior que os demais, até a Globo já teria noticiado. Depois, na Folha,
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u18822.shtml, consta reportagem de Antônio Gois e Raphel Gomide intitulada: ESTUDO APONTAM BOM DESEMPENHO DOS COTISTAS, onde os dados são abundantes. Estes revelam inúmeras problemas, mas, mito não é. E a verdade que escondem pode ser avassaladora para muita gente.
Desprezar o essencial é a primeira forma de esconder a verdade, onde, assim sim criar mitos. O itens é fator mais importante em todo este processo, posto que são esses quem intermeidam entre educando e resultado. Desprezar-se à qualidade deste interlocutor é nã querer ver nada. O nosso estudo dos itens de matemática aplicados em avaliações (pesquisas, vestibulares) dizem que estes são maus, doentios mesmos, como comprovamos e disponibilizamos publicamente na nossa págiana, especialmente nas edições dos nossos PI Fazendo Careta. E, boa parte destas não medem conhecimento nada, mas apenas malandragens. Havendo um processo claro e objetivo de se colocar quem pagou pré- vestibulares, ou teve outros recursos, para dentro das universidades e deixar de fora os demais, pobre natualemente.
Quem quiser, vá no portal IG, Debates, no link Educação, e leiam os meus artigos. Já temos dados suficiente no tema para, se tivéssemos um mínino de seriedade no sistema, já ter tido uma CPI para estudar tal crime. Como este é prepertrado em favor da elite, nada é feito.
Tudo que lutamos é por um sistema justo de avaliação e achar que só pela cor, alguém já teve ter algum saber a mais ou a menos, é inaceitável. Que o problema da raça entra neste caudal, por razões outras, concordo, mas que só por ser preto alguém aprende menos matemática, continuo dizendo que é tolice.
Em relação ao comentário de João Batista do Nascimento, as diferenças de desempenho em função de raça ou cor não são uma “história inventada” por alguém no Ceará, mas um fato muito conhecido e estudado na literatura especializada, sobretudo nos Estados Unidos, que não se reduz a um problema de testes mal feitos. Uma das principais referências é Christopher Jencks, e Meredith Phillips. The black-white test score gap. Washington, DC: Brookings Institution Press, 1998.
Se é para rejeitar a “cientificidade barata”, precisamos iniciar a conversa com dados confiáveis.
Venho acompanhando resultados acadêmicos de todos os programas de ação afirmativa e de cotas do país há anos.
Até hoje NENHUMA universidade publicou resultados que demonstrem que “alunos cotistas são tão bons, e em alguns casos até melhores”.
Em nenhuma universidade que adotou cotas como programa de ação afirmativa os cotistas têm média superior aos demais estudantes em algum curso.
O Brasil é ótimo para criar mitos. Esse do suposto desempenho superior dos cotistas já foi até parar em discurso de ministra.
Leandro Tessler
Coordenador Executivo
Comvest, Unicamp
Nossas pesquisas apontam para os seguintes fatos: quem iniciou essa ¨história ¨ de que aluno da cor branca aprende mais que aluno negro, foram as ditas pesuisas educacionais SPAECE/SEDUC do Ceará, conforme consta na nossa página, link Dossiê do (Des)Ensino de Matemática -Ceará, e que também é tema de um dos nossos Pi Fazendo Careta13. Esta ¨casualmente¨ foi feita pela mesma empresa que presta ¨serviço¨ ao INEP nas pesquisas SAEB. O que nós constatamos é há uma metodologia da avaliação, inserida no processo de elaboração dos itens, que prejudicam quem é pobre e favorece quem tem mais recursos. Sendo sua maior vertente e expressão nas provas de matemática dos vestibulares pelo país. Como alguém explica os dados indicando que alunos cotistas são tão bons, e em alguns casos até melhores, nos cursos superiores, que os demais? O óbvio que ninguém quer ver: as avaliações e suas construções metodológicas.
Quem quiser conhecer como estes se processam, leiam os nossos Pi Fazendo careta. Todos e de 14 a 19, mais espeficamente.
No mais, é cientificidade barata, querer asssociar cor com aprendizagem.
At.
A leitura do resumo, e em seguida do próprio estudo, me fez lembrar uma anedota em que se compara a retórica de Cícero com aquela de Demóstenes. Conta a anedota que, depois de um discurso de Cícero, a platéia costumava elogiar: “How well he spoke!” Já, quando falou Demóstenes, a turma reagiu: “Let’s march!”
Não duvido da erudição do estudo aqui em questão, mas os resultados são relatados em uma linguagem tão abstrata e asséptica, que eu como leitor fiquei confuso e na dúvida do que realmente se quis dizer e, principalmente, qual a ação recomendada. Receio que, desta maneira, não se avança a educação pública no Brasil. Parece que o tema dói, e que se usou esta linguagem anestesiante para não constranger a ninguem.
A título de contraste, menciono o artigo “Homère et Shakespeare en banlieue”, publicado no dia 16 deste mês por Le Monde. Ali se relata o surpreendente sucesso de um jovem professor que atrai alunos para seus cursos de grego clássico e de drama de Shakespeare em uma escola de ensino médio de um bairro pobre de Paris. Creio que a nossa solução se situará em algum ponto intermediário entre estes dois extremos. Mas devemos dar nome aos bóis, e não devemos prescindir de uma abordagem humanística.