Termina hoje, 4 de março, o Seminário Internacional “Fuga de cérebros, movilidad académica y redes científicas”, organizado no México pelo Departamento de Investigaciones Educativas del CINVESTAV e pelo Institut de Recherhe pour le Dévelopment da França. O trabalho que apresentei está disponível abaixo, e inclui alguns gráficos mostrando a forte tendência da CAPES e do CNPq de reduzir o apoio a estudos de brasileiros no exterior, e também de substituir as bolsas de doutorado por bolsas “sandwitch” de curta duração. Acho que estas políticas merecem uma discussão mais aprofundada.
A conclusão do artigo é que “es posible resumir esta discusión, remitiéndola a los riesgos y oportunidades que existen en la cooperación internacional. No se trata de optar por dos extremos, el de la internacionalización absoluta, que de hecho jamás va a existir, y el del nacionalismo cultural, científico y tecnológico, que tiene también obvios limites. Una política adecuada debería tomar en cuenta los beneficios del diálogo, oportunidades de aprendizaje y cooperación que existen cuando los caminos del intercambio y del flujo de personas e ideas están abiertos; asimismo, debería considerar los posibles límites de políticas educativas y de desarrollo científico y tecnológico que no invierten en la creación de instituciones de calidad en sus propios países, para que sea posible combinar de forma efectiva la investigación científica de calidad y actividades educativas, tecnológicas e científicas de interés y relevancia para sus propias sociedades. Esta no es, creo, una cuestión de recursos, sino que, principalmente, de orientación y actitud.
Nacionalismo vs. Internacionalismo en las políticas de formación de recursos humanos de alto nivel. Texto preparado para el Seminário Internacional “Fuga de cérebros, movilidad académica y redescientíficas”, Departamento de Investigaciones Educativas del CINVESTAV e Institut de Recherhe pour le Dévelopment, Mexico, 2-4 marzo.
Gostei bastante de seu texto, em especial do trecho abaixo:
“A nivel del posgrado y de la investigación científica, existe también una preocupación con el “colonialismo” científico el cual podría estar implícito en las políticas de cooperación: se teme que los estudiantes y profesores de los países en desarrollo trabajen en los temas del interés de las universidades centrales y que los datos e informaciones sean apropiados por empresas o organizaciones gubernamentales de los países ricos (Fals-Borda 1970). Esto de hecho suele ocurrir, y es necesario esforzarse para que las relaciones de cooperación sean tan simétricas cuanto sea posible, dadas las desigualdades que existen entre los países que envían y reciben estudiantes (Canto and Hannah 2001; Schwartzman 1995).”
Isso, de fato, ocorre muito em psicologia. Um exemplo notório é o da psicofarmacologia, em que se estudam os efeitos sobre ratos de drogas sintetizadas no exterior por empresas multinacionais, e que consomem recursos públicos mas não contribuem em rigorosamente nada para o país. Enquanto isso, a estupenda farmacopéia brasileira fica às moscas, literalmente. Por quê? Porque não é investigada no exterior, e grande parte dos pesquisadores brasileiros colonizados no exterior (ou orientados por esses no Brasil mesmo) têm sido míopes demais para enxergar os enormes benefícios potenciais dessa pesquisa com fármacos da farmacopeia nacional sobre o desenvolvimento científico e tecnológico e social e médico brasileiros. Uma lufada de ar nacionalista por essas bandas seria deveras refrescante e necessária.
Outro fenômeno escandaloso (a que me referi em minha tese de doutorado, já em 1989) é o do “back-scratching effect” (I’ll rub your back, and then you’ll rub mine, ok?). Carreiristas brasileiros inescrupulosos convidam pesquisadores de projeção média no exterior para que venham atuar como profs. ou pesquisadores visitantes de curto prazo ou ministrar palestras e cursos no Brasil valendo créditos de pós grad. Surpresos pelo convite (que lhes parece aumentar seu valor ante os pares que passam então a ver sua “projeção internacional”), esses pesquisadores de média estatura vêm ao Brasil e, em retribuição (kickback) revertem os papéis de convidados a hospedeiros, convidando os docentes brasileiros que os convidaram originalmente para ministrar aulas no exterior. Funciona: dá aos locais visibilidade imerecida e inflacionada, projetando-os perante os pares menos avisados como cientistas de visibilidade internacional. Desnecessário dizer, o processo todo é mais lastimável porque os interesses nacionais quase sempre vão às favas, já que tipicamente os convidados vêm para falar da realidade deles e não dos problemas que interessam ao desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. Seria imprescindível que as agências começassem a colocar um conjunto de prioridades mais focado no desenvolvimento do país e na resolução de seus graves problemas de educação, saúde, segurança (e tudo o mais que competir ao Estado) e investir pesadamente de modo mais sistemática na indução de demanda.
Seria muito bom valorizar um pouco mais aquilo que tem real valor. Veja meu dicionário de língua de sinais brasileira, por exemplo. Ele resgata a cidadania de uma população de 6 milhões de brasileiros que, até 2001 não tinham sua língua documentada. Graças a esse trabalho a Libras pôde adquirir realidade linguística e estatura como objeto de lei sancionada por FHC reconhecendo a Libras como idioma do surdo brasileiro. Nosso dicionário foi distribuído pelo MEC via PNLD, pela Unesco, e por diversos governos estaduais e municipais a mais de 70 mil escolares surdos pobres de todos os municípios brasileiros. O dicionário pesa 6,5 kg, recebeu prêmios nacionais e internacionais. E, ainda assim, não obstante, para consultores burocráticos e atuariais das agências de fomento, essa enorme publicação que me consumiu 15 anos (estou prestes a lançar nova edição com o dobro do tamanho) vale tanto ou menos que um réles artigozinho publicado no exterior num processo de back-scratching. Uma coisa tragicômica.
Se eu não fosse um cientista idealista de ampla e profunda preocupação para com o desenvolvimento científico, tecnológico, educacional e social do Brasil, eu já teria sucumbido aos medíocres joguinhos da academia. Mas não sucumbi, nem pretendo fazê-lo. Vou continuar produzindo ciência de ponta e de profunda relevância para produzir soluções concretas, mais do que para preencher as caselas das planilhas dos burocráticos avaliadores atuariais de plantão. Como você disse no artigo, é uma questão de atitude.
De novo, gostei demais este seu texto. Vamos continuar lutando com honra e altivez por este nosso Brasil. Aos poucos ele melhora. Nesse interim, vamos manter a coragem, o esforço, e a paciência. Com abraço fraterno.
Concordo totalmente com as idéias expressas no artigo.
Por coincidência, faz 8 anos publiquei um artigo na Revista Dados (Formação de Doutores no País e no Exterior: Estratégias Alternativas ou Complementares? ) em que apresento argumentos semelhantes aos seus. Questionava a eficácia do número crescente de bolsas para doutorado sanduíche no exterior sem qualquer avaliação dos resultados. Recentemente, cheguei a escrever para o Jorge Guimarães me oferecendo para fazer uma avaliação do programa de doutorado sanduíche no exterior e ele nem me respondeu. Eu acho uma pena porque estamos perdendo tempo precioso.
O artigo de Lea Velho está disponível em http://www.schwartzman.org.br/simon/lvelho2001.pdf
De fato, foi falha minha não ter lido antes o excelente artigo de Lea Velho, que coloca muito bem a questão, com grande riqueza de dados e informações.