A Folha de São Paulo publica hoje matéria dizendo que o número de estudantes de baixa renda ensino superior brasileiro teria subido em 49% entre 2004 e 2006, baseado em uma tabulação de dados da PNAD que fiz a pedido da repórter. Na verdade, foi um aumento de cinco pontos percentuais – eram 10.1% em 2004, e passaram a 15.1% em 2006 (já tivemos uma discussão neste blog a respeito dos erros que podem ocorrer quando calculamos percentagens de percentagens). Em números absolutos, no entanto, os dados parecem mais significativos – houve um aumento de 185% – de 224 mil para 745 mil, do número de estudantes de famílias de até 3 salários mínimos.
Acontece que o valor do salário mínimo vem aumentando muito nos últimos anos, e uma familia que ganhava até 3 salários mínimos em 2006 – R$ 1050,00 – estava no sétimo décimo da distribuição de renda daquele ano, e seria considerada em algumas pesquisas publicadas recentemente como de classe média.
Uma maneira melhor de ver a questão é pela percentagem de pessoas no ensino superior em termos de sua posição na distribuição de renda famliar do país. Dividindo a população em 10 grupos de igual tamanho, de menos a mais renda, podemos verificar se o acesso ao ensino superior das pessoas mais pobres efetivamente aumentou, e quanto. O quadro ao lado mostra os resultados, em percentagens acunuladas.
O que se pode ver é que o total de estudantes de nível superior oriundos da metade mais pobre da população brasileira passou de 9 para 11% entre 2004 e 2006. No outro extremo, o total oriundo das familias 10% mais ricas baixou de 40 para 38%. Algum progresso, sem dúvida, mas nada espetacular. E nem poderia ser muito diferente, dada a má qualidade e estagnação em que se encontra a educação média no país.
Claudio tem toda razão, já corrigi o texto. Quanto ao comentário do Prof. Afonso, a questão que ele levanta está analisada em meu texto, conforme indicado.
O crescimento do alunado de baixa renda no curso superior eltera fortemente a análise do quadro avaliativo do ENADE.
Este fato leva à necessidade de se redefinir os critérios de avaliação do ENADE. É preciso se atentar para o fato da entrada do aluno (período inicial)no sistema educacional superior e sua saida(período final) após haver cursado 8 ou 10 semestres.
É necessário atribuir um fator de medição entre o aluno iniciante e o aluno finalizante do curso, o que não é feito atualmente.
Algumas unidades de ensino superior certamente serão penalizadas pelo critério atual de avaliação do MEC, especialmente se atendem estudantes oriundos das camadas pobres da população, ainda não letrada.
de 10.1% para 15.1% não é uma variaçào de 5%, mas de 5 pontos percentuais (ou pontos base). É como o que você já corretamente observou no “A Miséria Brasileira”, não?