(O Jornal O Estado de São Paulo publicou a matéria abaixo em sua edição de 4 de dezembro, que está sendo reproduzida aqui. Por alguma razão esta informação sobre a autoria do texto não apareceu na versão original desta postagem, dando a impressão errada de que se tratava de texto meu. Peço desculpas).
CONVITE EXPÕE EMBATE IDEOLÓGICO NA EDUCAÇÃO
Indicação de secretária de Educação do Rio a cargo no MEC gerou mobilização inédita, contrária e a favor
O convite, na semana passada, para que a secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, Cláudia Costin, assumisse a Secretaria de Educação básica do Ministério da Educação (MEC) trouxe à tona o embate existente entre as duas correntes que pensam e gerem o assunto no Brasil.
De um lado, estão os pedagogos – acadêmicos de instituições públicas tradicionais de Ensino – e os sindicatos dos Docentes. De outro, profissionais de áreas como administração e economia, além de fundações e instituições voltadas à discussão do tema.
O primeiro grupo, o dos pedagogos, é o que historicamente domina o cenário da Educação brasileira, desde a construção do currículo dos cursos de Pedagogia até a formulação dos concursos públicos que selecionam Docentes para as redes de Ensino.
O segundo, o dos “estrangeiros à Pedagogia”, trouxe referências de outras áreas para a discussão do tema e defende as avaliações externas, as metas de aprendizagem e a existência de um currículo nacional.
Assim que o ministro Aloizio Mercadante fez o convite a Cláudia, o primeiro grupo lançou uma petição pública contra a nomeação. O texto a acusa de autoritarismo didático e de “capitalizar” a Educação. Sua gestão no Rio seria marcada pela “privatização do Ensino público, a fragmentação do trabalho Docente, a perda da autonomia dos Professores e a submissão estrita aos cânones neoliberais”.
Em resposta a esse ato de repúdio, o segundo grupo publicou uma carta de apoio à secretária, com números que mostram o avanço das Escolas cariocas no Índice de Desenvolvimento Educacional (Ideb) e afirmando que a gestão “ousou experimentar novas formas de aprender”.
Enquanto o debate fervilhava na internet, Cláudia recusou o convite por questões pessoais e o posto do MEC continua vago. Cesar Callegari, que ocupava o cargo, foi anunciado ontem como o novo secretário municipal de Educação de São Paulo.
Em breve, a discussão deve sair dos holofotes, mas continuará nos gabinetes que decidem os rumos da Educação brasileira.
Embate. Uma das questões debatidas é a serviço de quem a Escola tem sido pensada e realizada. Boa parte da academia acredita que esses novos atores no setor educacional trabalham a serviço do capitalismo, com foco em metas de empregabilidade e enriquecimento do País.
“Existe um projeto neoliberal que diminuiu a importância do Estado e subordinou a Educação às necessidades imediatas do mercado”, diz Carmen Sylvia Moraes, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), que ajudou a conceber o manifesto contra a nomeação. “Esquecem-se de que a Educação é a expressão e não a causa do desenvolvimento. Precisamos de um trabalhador com autonomia intelectual, crítico. E isso não se consegue com as metas que os economistas propõem.”
Ao se referir a metas, Carmen coloca em evidência outro motivo de discórdia: as expectativas de aprendizagem e as bonificações aos Docentes atreladas ao aprendizado dos Alunos. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, Professores de Escolas que alcançaram as metas no Ideb e no IdeRio, o índice local, são bonificados. O Estado de São Paulo tem programa similar.
“A avaliação pode estar maquiada. A Educação é mais que as notas de matemática e português. Essa é uma visão curta e economicista que culpabiliza o Professor pelo fracasso do Aluno”, diz Gaudêncio Frigotto, Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que assinou a petição contrária.
Resultados. Os números do Ideb têm mostrado avanços no Rio. Dados recentes mostram que, enquanto o Ideb dos anos finais do Ensino fundamental subiu 0,2 ponto nas Escolas públicas do País (de 3,7 para 3,9), o da cidade do Rio foi de 3,6 para 4,4.
Por lá, os Professores têm de cumprir um currículo com expectativas de aprendizagem e o concurso público, além da prova teórica, compreende uma aula para uma banca, com o propósito de avaliar a prática de Ensino, a didática do Docente.
“São experiências que deram certo principalmente em benefício dos mais carentes”, afirma o sociólogo Simon Schwartzman, que assina carta em apoio à secretária municipal do Rio.
Denis Mizne, diretor da Fundação Lemann, endossa o coro. “Conseguir esse avanço no aprendizado em uma cidade grande como o Rio não é pouco. Uma pena ela não ir para o MEC em nome desse debate antigo e de posicionamentos radicais que não ajudam, na prática, a melhorar a Educação no País.”
Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, pondera que o debate é um bom sinal. Mostra que a Educação está na pauta. Mas completa: “Enquanto se discute ideologia, o Analfabetismo continua”.
O pessoal que assinou uma carta protestando contra a posse de Cláudia Costin esquece que o Mercadante, ministro da educação, é economista. Outra coisa é o terrorismo que tem sido feito tanto pelo governo do estado do Rio e pela prefeitura são basear a educação apenas por números e atrelar a bendita remuneração associada a fatores não muito claros que tem sido burlado por várias escolas para obter a remuneração extra. O projeto que tem mostrado algum resultado seria o acelera ou autonomia, projeto que tenta resolver a distorção idade série, o restante tem sido maquiagem de números. A prática tem sido a maquiagem dos números para obter um 14°, 15° salário. “…os números enganam aos que se odeiam e aos que se amam…”
De fato, “enquanto se discute ideologia o analfabetismo contínua”.Isto faz lembrar o dito de Darcy Ribeiro de que o ‘analfabetismo no Brasil não era um problema, mas um programa’; no futuro o mundo todo viria assitir uma atração turística , qual seja ‘a parada de anafabetos brasileiros’.Analfabetismo é coisa séria.É crime de lesa pátria.
Ana Maria de Rezende Pinto
Eu não sei se há equilíbrio neste debate. Uma “solução” pelo consenso.
Entretanto sinto falta no viés ideológico de uma percepção e proposta CLARA sobre um caminho viável para uma qualidade na educação que não seja retórica ou, simplesmente, pautada na defesa da democracia ou liberdades individuais patrulhadas pelo que o grupo julga aceitável (vide os argumentos do documento dos contrários à nomeação). Isto vai além das questões que a educação pode dar conta, dado que em nome da “democracia” a profissão docente se tornou – na prática – uma das mais desmoralizadas. Por favor, não discuto o conceito de democracia mais o seu uso para tudo.
Também não vejo, por parte dos mais técnicos, defensores de referenciais quantitativos, exames e bonificações, um aceno para preocupações que revelem nossa orientação política, voltada para a liberdade e o dialogo. Quais práticas podem conduzir a resultados que não possam ser maquiados de alguma forma? Isto não é claro.
Além disto, em ambas posições o preceito de que todos são, por origem, desonestos nos dados que produzem e nos métodos que utilizam está sempre posto no debate. É insano que até nisto a imoralidade e corruptibilidade dos governos se transfere.
Eu não gosto deste debate. É antigo. Não tem nada revelador nele, a não ser que enquanto professores, alunos e família se engalfinham em escolas públicas imundas e miseráveis, intelectuais disputam quem tem razão… e o dinheiro vai pro ralo com políticas sendo “testadas” no país e a população parecendo material para ensaios egóicos. Nisto o sistema privado avança sugerindo ser melhor apenas porque não tem greve e as escolas são um pouquinho mais limpas. Isto vale também para o ensino superior, em meu ponto de vista.
Qual a solução? Sei lá. Se soubesse ganharia um Nobel. Pelo menos o principio mais geral da boa convivência diz que estas visões poderiam entender-se com um acordo onde pudessem concordar com o melhor dos dois mundos. Pois eu vejo coisas absolutamente necessárias em ambos casos. Deixar como está-pra-ver-como-fica é a mais espúria das decisões. Porém típico dos momentos políticos atuais. Estamos na barbárie.
Walterlina Brasil
Universidade Federal de Rondônia – UNIR
Mais uma vez, ótimo post!
Ao lado de profissionais de administração e economia, estão tamém os pesquisadores da área de Neuropsicologia, que estudam aprendizagem, e lutam todo dia contra o ranço que assola e prejudica a educação brasileira.
Priscila Cruz resumiu muito bem o cenário.
Aproveito para esclarecer que este texto é uma reprodução de matéria publicada pelo jornal O Estado de São Paulo em sua edição de 4 de dezembro de 2012. Como esta informação não apareceu na primeira postagem do texto, deu a impressão de que era de minha autoria, o que não é fato.