O novo comercialismo na educação superior americana e o programa “Ciência sem Fronteiras”

Philip G. Altbach

Philip Altbach, diretor do Centro de Educação Superior Internacional do Boston College, escreve no site Inside Higher Education – The World View sobre duas tendências preocupantes na educação superior norte-americana, o novo comercialismo e o rebaixamento dos padrões de qualidade na seleção de estudantes. Estas tendências, que nao ocorrem somente nos Estados Unidos, estão relacionadas à dependência das universidades, sobretudo as menores, em relação ao dinheiro das matrículas dos estudantes, e afetam sobretudo a admissão de estudantes internacionais que têm bolsas de estudo de seus governos ou famílias que podem pagar os custos, mas que muitas vezes não se sairiam bem em exames como o SAT ou o GRE.

Altbach não menciona o Brasil, mas a promessa brasileira de enviar 100 mil estudantes com bolsas de estudo para os Estados Unidos, Canadá e Europa está, sem nenhuma dúvida, fazendo brilhar os olhos de muitas universidades mais premidas por dinheiro nestes países, e pode significar que a promessa de que estes estudantes seriam mandados somente para universidades de primeira linha e para programas de qualidade possa não se dar como se espera.

O texto completo de Altbach está disponível aqui.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

4 thoughts on “O novo comercialismo na educação superior americana e o programa “Ciência sem Fronteiras””

  1. Prezado Simon:

    O exame da educação sob a perspectiva de um bem econômico passou a ser objeto de estudo para mim em minha tese de Mestrado “Migraçãos de Universitários no Sul de Minas Gerais: ‘Brain–Drain’ ou Indústria de Educação’’(IESAE/FGV, 1976. Orientador, Claudio Moura Castro.). Nesta tese, observei que o sistema de ensino do Sul de Minas, por razões de natureza geográfica e político-cultural, alcançou na década de 70, grande dinamismo, contando, entre unidades de ciências humanas, com outras escolas de ensino superior da base técnica e pioneiras, á época: agrícola, eletromecânica, microeletrônica e ciências de saúde, em localidades distintas no espaço regional, registrando, então, três escolas federais, hoje, universidades respeitáveis. Este sistema de ensino atuante, em contraste com o nível de ativação da vida urbana regional (região agrícola de colonização antiga passando do ciclo do ouro a grande produtora e exportadora de café), torna-se responsável por um fluxo de atração de estudantes e de exportação de graduados, que cria todo um sistema social e econômico girando em torno da vida escolar.

    O sistema de ensino, á medida que atrai alunos e recursos materiais para a manutenção e operação da educação acaba por se constituir em atividade produtiva que gera renda, empregos e outros benefícios sócio-econômicos para a região. Ao mesmo tempo, exporta graduados para o mercado nacional, caracterizando se como importante instrumento da ‘brain drain’, configurando-se, sob este ângulo, como fator de descapitalização regional.

    A expansão do ensino superior, sobretudo, nas décadas de 60 e 70 ( sec. XX), pode ser entendida como externalidades, deste sistema escolar, criando um mercado para seus egressos, constituindo o que poderíamos denominar por ‘industria de ensino’ produz vende exporta educação para o mercado nacional.

    A criação do Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, 20 anos depois, pode ser compreendida como o terceiro momento das externalidades geradas pelo sistema de ensino superior da região: a existência de graduados com saber especializado e moderno, cria pré-condições para a emergência de pequenas empresas de tecnologia de ponta que exploram capitalisticamente este saber concentrado e adensado, por três décadas, em um dos municípios da região, rico em café, forte politicamente e cujo elite local foi capaz de, ali, criar, a princípio com recursos próprios e atraindo a potência intelectual jesuítica para o projeto, a primeira escola técnica de eletrônica do Brasil, em 1958 , indutora, anos mais tarde, da primeira escola de telecomunicações do país.

    Esta tese ofereceu – me, o ‘mapa da mina’ para perseguir as relações entre ensino superior e economia. A tese de doutorado – “O Mundo capitalista e as transformações do Fordismo: a Reabilitação da Escola clássica na Era das Máquinas Inteligentes’ (PUC/SP, 1991, orientador, Evaldo Amaro Vieira), forneceu-me o instrumental teórico para explorar, mais fundo, o conhecimento do movimento do capitalismo rumo a intelectualizarão da produção. Movimento este no qual as relações entre escola e trabalho, capital e conhecimento e escola e negócio tornam-se, cada vez mais intricadas.

    Este conhecimento permitiu-me, a partir de então inferências não muito venturosas para as instituições escolares de ensino superior. Instituições por sua natureza geridas pela lógica da ação comunicativa, em processo de fruição do conhecimento entre mestre/aprendiz/cultura. Com o perigo de se romper este modo de funcionamento pela entrada acachapante pode se produzir, como alerta Habermas, disfuncionalidades ao próprio processo de desenvolvimento capitalista; dado que o processo de geração do conhecimento estará aprisionado á lógica do capital e não ás humanidades ou ao futuro do homem.

    É bom que este movimento seja acompanhado por estudiosos e denunciado como no texto de Philip Altbach ou, por exemplo, como o fizeram estudantes chilenos. A educação superior está em novo ritmo de acomodação e sob nova lógica.

    Atenciosamente,
    Ana Maria Rezende Pinto

  2. Sim, certo! Mas é importante lembrar que essa alternativa ou, plano de educação, foi adotada no Brasil no mesmo período da criação de órgãos supra-institucionais de educação, como MEC ea Educação Tutorial,(década de 70) com o objetivo de reestruturar as transformações no cenário brasileiro através da conexão do ‘novo projeto’ neoliberalismo econômico com o projeto educacional universitário mas hoje o que vemos é o mascaramento dos problemas sociais no Brasil por parte da dominação de uma classe.

  3. Outra alternativa/esforço que poderia ocorrer em paralelo, seria contratar professores americanos/estrangeiros para ingressar nos quadros das universidades Brasileiras, como já foi feito no passado…

  4. Caro Simon,
    A promessa de mandar estudantes brasileiros do Ciência sem Fronteiras só para universidades de primeira linha já não está sendo cumprida. Na primeira chamada para os EUA os estudantes não podiam escolher para onde iriam. Coube ao IIE, instituição americana, designar o destino. Vários estudantes das melhores universidades brasileiras foram parar em instituições de pequena expressão. Eu pessoalmente acho que devemos incentivar intercâmbios de qualquer maneira, mas não é recomendável anunciar uma lista de instituições de excelência e mandar os estudantes para outras, que não constam da lista.
    Para várias instituições estrangeiras o Ciência sem Fronteiras representa uma injeção importante de recursos mais do que uma oportunidade de fomentar intercâmbio com universidades brasileiras.

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