Leio no O Globo que começa hoje um ciclo de conferências inaugurado pela filósofa Marilena Chauí sobre “O Silêncio dos Intelectuais”, “um dos eventos mais esperados das últimas semanas, que promete espalhar boas e oportunas reflexões”. Leio também, na Folha de São Paulo, que “o presidente nacional do PT, Tarso Genro, disse nesta sexta-feira à noite que o PT vai voltar incorporar a intectualidade brasileira ao projeto estratégico do partido. A afirmação foi feita após encontro de Tarso com cerca de 40 intelectuais e convidados na sede da Fundação Perseu Abramo, na Vila Mariana, em São Paulo.”
Ninguém me convidou para nada disto. Eu sempre quis ser intelectual, e nunca consegui. Quando entrei para a faculdade, em Belo Horizonte, morria de inveja de meus colegas intelectuais, Teotônio dos Santos e Flávio Pinto Vieira, que entendiam os filmes da nouvelle vague, escreviam nos jornais, publicavam poesias, e sobretudo participavam de festas fantásticas com mulheres lindas, em que, lá pelas tantas, todo mundo caía na piscina, e das quais eu só ouvia falar. Ao longo dos anos, fui aprendendo que ser intelectual não tem muito a ver com estudar, escrever e ter idéias, mas com algo muito mais inefável, impossível de definir, que faz com que uns estejam sempre nos suplementos literários dos jornais e sejam convidados para grandes festas, e outros fiquem sempre de fora. Em algum momento, pensei que a explicação tinha a ver com freqüentar certos bares, em Belo Horizonte, ou certos pontos na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Tentei estes caminhos, mas não fui muito longe: tenho pouca resistência à bebida, e minha pele é branca demais para agüentar o sol do meio dia do verão.
É por isto que não sei bem que silêncio é este do qual os intelectuais estão falando tanto, nem fui chamado a me incorporar ao projeto estratégico de nenhum partido. Continuo falando bastante e dizendo o que penso, embora os leitores deste blog sejam ainda menos numerosos do que os do Agamenon.
Pois é Sr.Simon… cada vez mais eu me convenço do acerto do Daniel Pécaut, quando este fala sobre os “Intelectuais e a política no Brasil”. As ligações entre os intelectuais e os dirigentes do país sempre foram muito estreitas, com ambições semelhantes, estão constantemente associados… e isso não vem só de agora, ou será que durante o reinado FHC, também não foram aproveitadas “determinadas” cabeças-pensantes de nosso país???
Um abraço…
se fosse para promover o silêncio, não tinham publicado a íntegra do áudio da conferência da Marilena no site do ministério da cultura, e nem abriam um fórum para a livre troca de idéias. acho que o governo é ruim, mas certamente é mais honesto do que os governos passados. é que a galera tem uma memória curta…
Depois da participação da Marilena Chauí, fica fácil entender que silêncio é esse : é o silêncio da falta de humildade de confessar que errou e participou, vá lá, sem se dar conta, desse projeto espúrio e, felizmente abortado, de conquista do poder.