No debate dos candidatos à presidência, Serra criticou o governo por ter interrompido os mutirões de saúde, e por abandonar e cortar os recursos das Associações de Paes e Amigos dos Excepcionais – APAES. Dilma respondeu que os mutirões não podiam ser políticas estruturantes, e que o governo atual não tem nada contra as APAES, e acha muito importante a inclusão dos expecionais nas escolas.
No caso da saúde, Dilma tem certamente razão ao dizer que a saúde pública não pode depender de mutirões, mas Serra também tem razão ao dizer que, na falta de um sistema de saúde que funcione bem, as pessoas acabam ficando sem atendimento. A questão de fundo, que nenhum dos dois levantou, é como fazer com que o sistema de saude funcione melhor, dados os custos crescentes do atendimento, as limitações de recursos e o princípio do SUS de que todos têm direito a atendimento médico gratuito da melhor qualidade. É claro que esta conta não fecha, com ou sem CPMF, e é preciso por isto estabelecer prioridades e regular de forma correta o papel do setor público e do setor privado nesta área. Eu gostaria de ver esta discussão entre os candidatos.
No caso das APAE, não conheço os detalhes, mas me parece que pelo menos parte do problema reside na “política de inclusão” do atual governo, pela qual as crianças excepcionais deveriam estudar nas escolas regulares. A intenção é nobre, mas os resultados na prática podem ser desastrosos, porque a maioria das escolas públicas não tem estrutura nem competência para lidar com situações mais graves de crianças excepcionais, que acabam ficando desassistidas pela falta de apoio às instituições comunitárias voltadas especificamente para seu atendimento, como são as APAES.
Uma situação que eu tenho acompanhado um pouco é a dos surdo-mudos. Os especialistas sustentam que eles se beneficiam muito mais de escolas especializadas aonde a Libras – Língua Brasileira de Sinais – é a primeira língua, e tendem a ficar marginalizados se são incluidos de maneira forçada em escolas regulares, que é a política que tem sdo adotada pelo governo.
A mesma diferença de abordagem surgiu na questão da educação. Serra, sem discutir as questões mais gerais – como a total falência do ensino médio – preferiu anunciar as milhões de matrículas do ensino profissional que vai abrir, criando uma versão tecnológica do Prouni, o Protec. Dilma falou das questões gerais – da importancia da educação infantil, da qualidade, etc., e, para não ficar atrás, também anunciou que vai criar não sei quantas mais escolas técnicas e creches (serão creches federais?). Mas também não disse nada de concreto sobre como fazer uma educação infantil de qualidade, como lidar com a crise do ensino médio ou como fazer com que as universidades e centros tecnológicos federais que o governo atual está criando realmente funcionem e justifiquem o dinheiro que custam.
As políticas que Dilma sustenta são baseadas em idéias gerais aparentemente bem intencionadas, mas que não funcionam na prática, enquanto que Serra prefere insistir em ações específicas que mostram resultados, evitando no entanto, pelo menos até agora, discutir as questões de fundo, como a reorganização do SUS ou quais seriam as políticas corretas não só para a educação e inclusão dos excepcionais, mas para a educação pública como um todo.
Quanto ao tema dos mutirões em geral concordo contigo. O problema é que os mutirões para procedimentos especializados são necessarios pelo menos nas areas rurais ou pequenas cidades desprovidas de sistemas adequados de transporte e redes de saude. A Finlandia até pouco tempo tinha mutirões para atender as cirurgias de catarata nas populaçoes dispersas da Laponia apesar do sistema de saude ser muito melhor. Nessas areas é praticamente impossivel fixar especialistas e os multirões, na inexistencia de transporte adequado e redes de referencia, passam a ser uma solução. Quem fez um mutirão de catarata há pouco tempo, copiando o modelo do Serra, foi o Uribe na Colombia.
Existe Democracia no Brasil? Por que o Serra não perguntou sobre a ligação do PT com as FARC e o narcotráfico?
Não existe Direita nesse país. Acorde Simon…
O problema com a educação inclusiva é que a proposta não está errada. O que está errado é terem achado, é bom incuir nisso o CONADE por exemplo, que o Estado manda e os outros obedecem.
Não houve qualquer preocupação com uma regra de transição ou com a bagunça que é o ensino fundamental.
Realmente enquanto o ensino fundamental não for oragizado de forma decente dificilmente será inclusivo. aliás a bem da verdade ele não é inclusivo apenas para crianças com deficiência. ele também não é inclusivo para as outras crianças.É tão óbvio, mas não é uma leitura que esteja na cabeça dos merqueteros, que decidem de fato o que vai ou não vai aparecer.
A falta de uma debate mais profundo está sendo a norma dessa campanha, completamente dominada por conceitos bem estranohs.
Acho que há duas leituras perigosas que estão reduzindo o debate eleitoral a uma aposta sobre quem faz mais ou melhor:
a) O foco são as famílias de renda menor que 5 salários, pois elas é que darão o destino principal dos votos. O resto das famílias já decidiram o seu voto(?);
b) essas famílias não estão interessadas em nada que não seja o seu cotidiano.
Já pude escutar e não foi de quem não tenha influência nas decisões de campanha, por exemplo, que o debate sobre educação não é importante, pois para as famílias mais pobres o que importa é que o filho está na escola. Se é boa ou não não interessa.
É triste, mas é verdade. Acredite.
O povo brasileiro tem a fama de ser o povo mais cordial e solidário do mundo, mas isso tem certamente elementos míticos, algo que qualquer sociedade precisa para funcionar, como diz Larry Rohter. No nosso país infelizmente, as instituições públicas nao funcionam, são tomada pela corrupção e ineficiência, dessa forma a natureza humana se encarrega de resolver parcialmente o problema através de manifestações como os mutirões (ou fazemos isso ou tudo ficará muito pior do que já é) e daí vem o rótulo de povo mais solidário, cordial do mundo, talvez em outros países eles não precisem tomar para si os deveres do estado.
A questão da inclusão realmente é fundamental, sou educadora do ensino fundamental e teoricamente há uma política que tenta nos convencer da beleza da inclusão, hoje, os professores que tentam levantar a discussão sobre a falta de estrutura e competência para atender os alunos surdos, cegos e com déficit intelectual detectado e portadores de laudos médicos, são tidos como profissionais ultrapassados, defensores da exclusão escolar e acomodados tanto no sentido do efetivo trabalho em sala de aula quanto no sentido da busca por informações e formação continuada. Acredito que realmente um ou outro caso desses existe em nosso meio, mas por mais que o professor tenha boa vontade, leia teorias sobre a inclusão e formas de trabalhos com as diferentes deficiências, tente não marginalizar os alunos inclusos, esse professor jamais terá condição de atender ao DIREITO dessas crianças, direito este que ultrapassa o simples estar em uma sala de alunos ditos normais, de serem bem vistos e bem tratados por todos. Acredito na inclusão, não só de crianças com deficiências visíveis e detectadas por exames médicos, mas acima de tudo só acredito na inclusão que não esquece de atender acima de tudo ao DIREITO de cada criança de desenvolver suas capacidades e aptidões assistidas e orientadas por profissionais conhecedores e preparados para tais funções. Uma criança surda deve estar em uma sala regular sim! sendo atendida pelo professor titular e por um profissional da área, um tradutor da língua falada para a língua de sinais ou ela está fadada a ficar ali na sala de aula esperando o tempo passar e fazendo parte de uma estatística linda de inclusão.