Patrício Meller, conhecido intelectual chileno e professor universitário, colaborador próximo da Presidente Bachelet, escreveu o artigo abaixo sobre a ocupação da Casa Central (Reitoria) da Universidade do Chile por estudantes, situação que lembra muito os episódios recentes da USP.
Devuelvan la Casa Central!
(publicado en El Mercurio 17 de diciembre de 2011)
La Casa Central de la Universidad de Chile está “tomada” ya por 6 meses. ¿Por qué?, ¿para qué?
La Casa Central es el símbolo de la Uiversidad de Chile. Hay una vejación de la fachada, la que ha sido cubierta de lienzos, afiches, slogans con un trato ofensivo de diversos políticos e instituciones. Han transformado el frontis de la Casa Central en un chiquero.
Hay un menoscabo y un atropello a lo que representa la UCh. Los estudiantes estiman que es más útil usar la fachada para poner lienzos con slogans que preocuparse por la cuestión simbólica.
Los ocupantes no permiten ingresar a nadie. No se deja utilizar la Casa Central. ¿Por qué no se permite al Rector usar su oficina?, ¿por qué no se puede usar el Salón de Honor para celebrar el 169 aniversario de la UCh?, ¿por qué no se deja que los egresados de la UCh tengan su ceremonia de graduación en el Salón de Honor de la Casa Central?
¿Quién toma estas decisiones y con qué atribuciones? ¿Cuáles son los principios o derechos que validan este tipo de comportamiento?
¿Qué diríamos si bajo la Dictadura el Rector-Designado hubiera adoptado decisiones similares de que ningún profesor o alumno puede ingresar a la Casa Central de la UCh? Sería una muestra concreta de abuso de poder del Rector-Designado durante la Dictadura. Esto sería concordante con la intención de menoscabar y humillar a la UCh.
Pero, ¿cuál es la diferencia con lo qué están haciendo hoy los estudiantes que se han tomado la Casa Central? Al nuevo Presi de la FECH y a los ocupantes de la Casa Central les solicito – devuélvanle la oficina al Rector, devuélvannos el Salón de Honor a los profesores y alumnos. En breve, devuélvanle la Casa Central a todos los chilenos, por cuanto la UCh le pertenece al país y no a la FECH.
Este tipo de acción tiene la terrible consecuencia de contribuir a la destrucción del prestigio y del quehacer de la UCh.
Obviamente, la ocupación de la Casa Central es la punta del iceberg. Es preocupante el planteamiento de los dirigentes de la FECH quienes viendo el desprestigio de los partidos políticos, del Gobierno y del Parlamento planteen y quieran que la UCh ocupe el vacío político existente en el país. Es inquietante que los dirigentes estudiantiles destinen todas sus energías a convertir a la UCh en el mecanismo de cambio social, estructural e institucional de Chile. La UCh debiera estar centrada en su gran responsabilidad académica y seguir siendo líder de la educación universitaria.
Para decirlo directamente, me preocupa que se repita algo que ya vivimos. “La UCh como vanguardia revolucionaria”. Esa película ya la vimos y sabemos cómo terminó.
En síntesis, hay una terrible convergencia que apunta a la destrucción de la UCh. Desde afuera, un Gobierno de Derecha, y desde adentro, estudiantes de Izquierda. Todo esto ante la pasividad y timidez de las autoridades universitarias (Rector y Decanos) y la desidia y abulia de mis colegas, los profesores universitarios.
Pero, a mi juicio, la UCh con su autonomía, excelencia académica, pluralismo, libertad académica, trato horizontal es crucial que siga existiendo como modelo para el resto de las Universidades. Por eso no podemos permitir que se destruya la UCh. Pero para eso tenemos que concordar un “contrato social universitario” de convivencia civilizada internamente y evitar que externamente la Universidad se desborde hacia un activismo anarquista desaforado que paralice y destruya el quehacer académico.
Prezado Simon:
O apelo do Professor Patrício Meller para que os estudantes devolvam a casa central dos estudantes do Chile, não será fácil de ser atendido do ponto de vista simbólico. A crise institucional que atravessa a universidade do Chile tem a ver com a crise geral de projeto nas instituições educativas, no que diz respeito a sua capacidade formativa e de orientação para um mercado cada vez mais volátil. Há quem diga que uma sociedade está em crise quando não consegue educar as novas gerações (Gramsci). Este é um sintoma do presente das nações. Também, um filósofo da educação brasileira costuma colocar aos educadores esta pergunta: “Como faço para ensinar ao jovem do século XXI, sendo ele a expressão do futuro, porém educado por um docente nascido no século XX e referendado em metodologia do Século XIX?”. ( Cortella).
A geração atual herdou um mundo sem certezas e submerso em eterno presente que a leva a perseguir, com frenesi, um eterno futuro, no qual as verdades de ontem evaporam-se no recente amanhã Antes, podia-se dizer ao jovem “estude que você terá um bom emprego” (Darenhdorf). “Siga-me que eu lhe mostro o caminho da prosperidade e lhe ensino a construir seu futuro”. A geração nascida em meados do Século XX vivenciou o ciclo de “Ouro do Capitalismo” (Hobsbawm). Encontrou um mundo em progresso e um mercado de trabalho sedento e pronto para absorver estes jovens recém saídos da universidade que começava a se expandir em direção á classe média. Estes jovens eram mais altos, saudáveis e instruídos que a geração que lhe antecedeu. Eles clamavam, por mudanças culturais e de costumes e sonhavam com um mundo novo, no plano político, mirando as transformações políticas que aconteciam aqui e ali. Clamavam por mais vagas nas universidades e pelo ensino gratuito e transformações nas relações docentes.
A juventude atual encontra um mundo mais homogêneo no plano político e cultural e também, aparentemente, menos rico. As indústrias encolhem, migram de um lugar para ao outro, os empregos no setor serviços, que se expandem, o fazem a partir de cálculo cuidadoso Ela tem acesso ao ensino superior, que se expande e se diversifica, porém ao se formar não consegue emprego duradouro e se quer provável. No lugar do emprego, ela encontra formas alternativas e individualizantes de informação, em tempo real, para além da escola – internet, celular , redes sociais. Ela encontra um mundo social em processo constante de desmonte, ou de constante de reconfiguração pela ação da ciência e da tecnologia em todas as esferas da vida social, exigindo-lhe atualizações e adaptações comportamentais freqüentes bem como o eterno retorno ás instituições formativas e de apoio sócio – psicológico Esta geração clama por um contexto, ela clama por sobrevida. Ela quer participar da construção de seu destino material. Ela quer ser ouvida e quer encontrar espaços de discussão referentes aos fatores macro estruturais que afetam o seu mundo vivido e interferem na sua capacidade de traçar o seu destino social.
O que pode a escola atual oferecer como referência para o futuro das novas gerações nesta sociedade tecnológica que transforma de forma exponencial e contínua as relações sociais e a natureza das relações de ensino aprendizagem atingindo, de pronto, o espaço escolar?
Segundo Habermas a relação entre o progresso técnico e o mundo social da vida, e a tradução das informações científicas para a consciência prática não pode ser assunto privado, dado a sua importância. O Filósofo nos propõe como desafio a seguinte pergunta: “como se pode restituir a capacidade (intelectual) e a disposição (vontade) dos cidadãos, que interagem entre si, sobre seu destino social. A edificação da cultura tecnológica pressupõe a dialetização da cultura e a politização da ciência. Há que se repensar idéias e teorias e relações sociais, para valer.
No plano material o Chile tem um problema, a mais, para resolver- sua rede de ensino superior é em grande parte privada, edificada com base em empréstimos bancários contraídos por estudantes e suas famílias. O graduando, ao se formar, leva consigo o bônus de uma dívida com sua escolarização; isso em época de ‘precarização’ ou reestruturação das relações de trabalho.
E, finalmente, há uma discussão de fundo que as nações deverão discutir, qual seja o financiamento da educação para a sociedade do conhecimento, na qual a escola passa a exercer cada vez mais funções sociais – não necessariamente instrucionais, como previam os profetas da ‘desescolarização’ da sociedade. No Brasil ainda estamos lutando para financiar a democratização de uma a escola fundamental de qualidade.
Atenciosamente,
Ana Maria de Rezende Pinto